EURATÓRIA
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A EUROPA MUTILADA FITA O HORIZONTE… E MAIS ALÉM 10 APONTAMENTOS BREVES E UM PENSAMENTO REBUSCADO Já ninguém pode ouvir falar do Brexit. Agora que se consumou, a fadiga acumulada de quatro anos de debates sem fim levará inevitavelmente a que não se fale dele durante um período longo. Certo? PRIMEIRO APONTAMENTO Seria verdade se não fosse mentira. Isto é, se o pressuposto estivesse certo. Mas o Brexit está longe de consumado, começa em Março a parte mais difícil, as negociações para a relação comercial futura – o acesso aos respectivos mercados – entre a Europa dos 27 e o Reino (mais ou menos) unido dos Quatro. E há escolhos no caminho: os responsáveis europeus acham difícil concluir um tal acordo em 10 meses, BoJo assegura que ou é possível ou nada (“no deal”); o problema é que até 1 de Julho terá de ser decidido se se adia o prazo de 31 de Dezembro 2020 (até 2 anos). Não vejo como poderão os britânicos admitir em Junho, com apenas quatro meses de negociações, que o acordo pode não ser concluído até ao final do ano. E assim decuplica (ou mais) o risco de saída sem acordo. Penso eu, claro. SEGUNDO APONTAMENTO 47 anos de pertença do Reino Unido (RU) à União Europeia (UE) terminaram às 23h TMG do dia 31 de Janeiro 2020. 47 anos de amor-ódio, de estar sem estar, de um “opt-out” por cada “opt-in”, de Thatcher e “give My money back”, de Blair e “the case for Europe is power, not peace” (serão as duas coisas…), de Cameron a accionar a guilhotina que lhe cortaria a cabeça política, convencido de que algures a meio da descida a lâmina se deteria, assim apaziguando a sede de sangue dos “backbenchers”, comité 1922 e todos os eurocépticos do seu partido, velhos senhores de sangue azul vestidos de negro saudosos do Império Que Foi. 47 anos de luzes e sombras, mais sombras do que luzes, e agora até as sombras se apagaram. TERCEIRO APONTAMENTO O Tratado de Windsor e 1386 são velhos conhecidos dos portugueses, que à vista de um qualquer cidadão britânico de férias em Portugal, logo evocam a Velha Aliança (confesso que o faço com frequência), com estupefação dos ditos-cujos, que do nosso país conhecem sobretudo o Port Wine e o sol. Mas a História pátria abunda de de momentos em que essa velha Aliança foi sobretudo o instrumento do poder britânico, e não um verdadeiro pacto de entre-ajuda solidária. Não é este o local para desenvolver o tema – e fique claro que ele nada tem a ver com a estima entre povos -, limito-me a recordar o Tratado dos Panos e dos Vinhos (Methuen), para muitos responsável pela nossa tardia e escassa adesão à revolução industrial, o mapa cor-de-rosa e o Ultimato ou a tentativa britânica de entregar as colónias portuguesas à Alemanha no início do século XX. Águas passadas, sim, mas que ainda movem alguns moinhos e deveriam impedir o nosso embasbacamento. QUARTO APONTAMENTO Recordo o dia longínquo em que cheguei ao Parlamento Europeu, jovem funcionário. Portugal tinha aderido há poucos meses, eu vinha cheio de ilusões e de paixão pela causa – a integração de uma Europa ainda marcada pelas cicatrizes de tantas guerras, tanto sofrimento -, e chegado entrei num estranho edifício chamado Le Nouvel Hemycicle, no Luxemburgo; foi logo a seguir às férias, corredores desertos, gabinetes vazios, ninguém. Só ao fim de algum tempo encontrei um colega, por coincidência espanhol, ainda hoje um amigo. Logo a seguir, o britânico, um inglês: efusivo, manifestei a minha alegria por estar ali, a contribuir para o futuro dos europeus, em parte representante dos meus concidadãos, num tempo em que os funcionários portugueses nas instituições ocupavam o espaço de duas mãos. E hauri de um trago o fel da sua resposta: estava “fed up”, bored, anoyed com a burocracia europeia, todo aquele processo era um disparate. Tentei dissuadi-lo, falei-lhe até do Tratado de Windson, debalde. Um tatcheriano, explicar-me-ia o colega ibérico. Reformou-se pouco depois, talvez ande por aí, se calhar em Portugal, a beber um Port ao final da tarde e a brindar ao exit do RU deste “disparate”. QUINTO APONTAMENTO A desunião do RU não ficou resolvida com o Brexit. Por três ordens de razão: – 1º, porque entre os que o consideram um erro histórico e os que o vêem como o momento do renascimento britânico, a divisão é geracional, geográfica e social. – 2º, porque o rumo para que o PM britânico aponta não parece de molde a sarar as feridas dessa divisão, como salienta o Observer de dia 2: “Não é necessário que um acordo de comércio livre envolva a aceitação das regras europeias em matéria de concorrência, subsídios, protecção social e ambiente ou algo similar (…)”. Ora o mercado interno europeu não é compatível com o acesso de bens e capitais, a prestação de serviços, já para não falar das pessoas, em incumprimento dessas regras. Pergunta simples: e o RU é obrigado a aceitá-las? Resposta: não. Pergunta: e isso significa o quê? Resposta complexa: não podem aceder ao mercado europeu os produtos e serviços (incluindo os financeiros) que não as cumpram… – Terceiro, porque na origem do Brexit está um problema de identidade misturado com uma visão passadista incompatível com a aceleração da História. Saudades do Império de Antigo e a rejeição da globalização como se fosse evitável, da 5ª revolução industrial como se não estivesse a chegar e dos novos paradigmas políticos e económicos, como o Chinês, levaram a referendos e animaram lideranças cujo fito principal é o poder: ganhá-lo e guardá-lo contra as marés do mundo. E resta referir, mas não referirei para além do apontamento, a coesão nacional. Escócia, Irlanda do Norte e até Gales serão, para fácil de prever, dores de cabeça recorrentes para BoJo – e a união do Reino está longe de garantida. SEXTO APONTAMENTO Blair: “é uma questão de poder”. E se a Europa fica mais fraca, o que é evidente e inquestionável, o RU fica ainda mais, pois acaba de perder (escreve Simon Jenkins no Guardian) “o músculo da negociação colectiva” proporcionado pela UE. E a ideia de que um acordo minimalista ao estilo “canadiano” (que BoJo diz preferir) ou outro, pode ser compensado por ganhos no comércio com os EUA e a China, colmatando a perda de parte dos 50% do comércio britânico com a Europa, mais do que irrealista é uma ilusão. Já a seguir… porquê? SETIMO APONTAMENTO Na nova aliança comercial transatlântica prometida a BoJo por DT há muitas linhas vermelhas – e interesses conflituantes. Estarão os britânicos dispostos a aceitar os produtos geneticamente modificados que, até agora, seguindo os padrões europeus, não tinham acesso ao seu mercado? E prescindirão de impor taxas sobre os serviços digitais, o que, muito provavelmente, será uma pré-condição Trump para iniciar negociações? E aceitará o presidente norte-americano a inversão da balança comercial entre os dois países, neste momento ligeiramente favorável aos EUA em pouco mais de mil milhões de euros? Já quanto à China, nem BoJo acreditará em ganhos substanciais – afinal, falta-lhe o “músculo da negociação colectiva”… OITAVO APONTAMENTO O Conselho da UE adoptou as directrizes da negociação: em linha com a declaração política anexa à aprovação do Tratado de saída, pretende uma parceria estreita com o RU, assente numa estrutura integrada num modelo global de governança; incluindo comércio e cooperação económica, cooperação judicial, política externa, segurança e defesa; que reconheça a prosperidade e a segurança num quadro internacional baseado no primado do direito, os direitos individuais e níveis elevados de protecção dos trabalhadores e consumidores, o ambiente e um comércio livre e justo. Trata-se daquilo a que os europeus chamam “level playing field”, isto é, a base comum das regras a respeitar, que Boris já se encarregou de rejeitar (5º apontamento). São os europeus ingénuos ou é o PM britânico que fala para dentro?! NONO APONTAMENTO *A Europa, com a saída do RU, liberta-se do mais recalcitrante dos seus membros, mas também um dos mais importantes. Não foi fundador – quis ficar de fora em 1957, mudou de opinião 4 anos depois –, mas é a mais velha democracia, a 2ª economia, a 1ª potência nuclear do continente. E os britânicos, como o meu colega dos idos de 80, têm um espírito pragmático que ajudou a UE a não ceder a excessos federalistas e outros que teriam causado mais mal que bem. O RU faz falta à Europa. *O RU recupera uma soberania que nunca perdeu, mas perde o acesso livre ao maior mercado do Mundo. Perde, como referido, o músculo da negociação colectiva europeia. Perdem os britânicos a liberdade de circular livremente pelo continente. Perde o acesso aos programas e financiamento europeu. E pode perder a sua própria união, não já mas a prazo, como referido no apontamento 5. Mas não se fala mais disso: os britânicos, Nigel dixit, libertaram-se da feroz ditadura de Bruxelas, só comparável às dos tiranos de outras Eras. Se não fosse triste, daria vontade de rir. DÉCIMO APONTAMENTO “For auld lang syne”, pelos bons velhos tempos, cantaram os eurodeputados em uníssono ao aprovar o Tratado de saída. Entretanto, em Londres, os “brexiteers” portam-se como se tivessem ganho uma guerra. É pena que assim seja, pois as feridas estão abertas, sangra o tecido frágil da união dos povos da antiga Albion, sangra o cisma que separou a Europa das ilhas brumosas; sangra o coração dos que lamentam, como eu, que este extraordinário e generoso projecto europeu dependa, e cada vez mais depende, do tacticismo momentâneo e egoísta do momento político. Tantos anos de paz e prosperidade postos em causa num arrufo momentâneo, animado por promessas vãs, quase-verdades e demagogia, e escrito na pedra da História num momento referendário único, do qual seria, como foi, muito difícil recuperar. Brindemos ao regresso dos nossos amigos de além-Mancha. Um dia, no futuro, porque na verdade os “auld lang syne” não foram assim tão bons. Esperamo-los aqui, ao dobrar da esquina do futuro. UM PENSAMENTO REBUSCADO Infelizmente, acredito que o Brexit – e tudo o que se vai passar no futuro próximo – pode bem ser um exemplo que outros países europeus queiram seguir. Não faltam candidatos, aliás, sob as bandeiras do populismo e da retórica anti-Bruxelas. Ora é provável que os primeiros anos sejam, na aparência, pacíficos e mostrem um simulacro de sucesso britânico, nem que seja porque o governo actual tudo fará, incluindo um massivo investimento público, se for necessário, para o conseguir. Já sem falar que neste ano de 2020 pouco muda pois se mantêm em vigor a maioria das regras anteriores. Não é naturalmente uma situação sustentável no médio e longo prazo. Mas os movimentos que referi, os “exit” de toda a natureza podem ocorrer muito antes. Só sobra uma solução a todos quantos acreditam na importância do projecto de integração europeu: perseverar, não esmorecer, continuar a explicar sempre que possível o que ele representa para todos nós, europeus.

Europa …)

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BREXIT ESPECIAL  No Reino Unido, por estes dias, não se fala de mais nada: Brexit, Backstop, Farage, No-deal, Deal (mas qual?), adiamento do Brexit, novo referendo, Boris e o Brexit, Johnson e o Brexit, lies e mais lies.  Permitam-me que deixe bem clara a minha posição, que aliás é pública e antiga, vem do tempo em que um tal David Cameron resolveu tirar da cartola a ideia peregrina de levar a cabo um referendo para controlar os rebeldes da sua bancada parlamentar; ele julgava que ganhava facilmente, perdeu. E com ele perdemos todos, britânicos e europeus.  Sou contra o Brexit, estrutural e profundamente: é uma ideia disparatada, ninguém ganha nada com a saída do Reino Unido, muito menos os britânicos. Falam-me em democracia, mas em democracia o uso do referendo deve ser feito com parcimónia, evitando-se decisões de sim ou não em matérias muito complexas (veja-se, a mero título de exemplo o caso do “backstop”).  Claro que se os britânicos decidirem sair, ninguém os pode, ninguém os deve impedir; mas ninguém me pode a mim impedir de escrever, de dizer, de explicar que o Brexit é um erro e que não beneficia ninguém, que os britânicos são parceiros valiosos e desejados, que a luta por uma Europa unida e solidária é uma parte importante da defesa da herança e da alma europeia, liberal, ocidental; e nem sequer me podem impedir de desejar que ainda possa reverter-se a decisão.  Inauguro então esta rúbrica, em simultâneo na página FB Paulo Sande – Europa. Por hoje, como aperitivo, estou com veia festiva -, proponho visitar algumas das melhores metáforas sobre o Brexit. Publicado pelo Indy100 (www.indy100.com), vale a pena como consolação e refrigério. E valha-nos isso, claro. 1. O autocarro (ver imagem), a caminho de uma manifestação do Ukip. Perdido em Londres, seguiu por uma estrada sem saída. Mas como se lê no artigo, os autocarros podem voltar para trás. E os países? 2. Tweet publicado em 2017 por um jornalista financeiro (David Osler): “Vou cancelar o Netflix e negociar com cada produtor de filmes para conseguir o melhor acordo possível para a minha família”. Pois é… 3. Também em 2017, o deputado conservador Daniel Hannn tweetou: “Deixar a UE é um pouco como mudar para uma casa melhor. A mudança pode incluir momentos de stress, mas vale a pena”. A autora de Harry Potter, J.K. Rowling, respondeu: “Comprámo-la sem a vermos, não sabemos quanto vai custar e os decoradores nunca fizeram nada igual antes. O que é que pode correr mal?”. Pois é (outra vez)… 4. E há o vídeo Titanic/Brexit, que vale a pena voltar a ver no youtube: https://youtu.be/svwslRDTyzU?t=7 (copie e active, ou vá ao youtube e procure Titanic Brexit). 5. E que tal esta caneca? (imagem…). Há mais no artigo do Indy100, o melhor é ir lá ver. Até ao próximo Brexit Especial

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(…) O QUE ME SEDUZIU NO CONVITE PARA LIDERAR A LISTA DO NOVO PARTIDO ALIANÇA ÀS ELEIÇÕES EUROPEIAS, EU, QUE NUNCA FIZ POLÍTICA PARTIDÁRIA? … EM PRIMEIRO LUGAR O FACTO DE ME TEREM CONVIDADO. ERA TÃO FÁCIL EMBARCAR NA ONDA POPULISTA. EM VEZ DISSO, CONVIDARAM UM INDEPENDENTE DESCONHECIDO DO PAÍS,COM UMA VISÃO CLARA SOBRE A UNIÃO EUROPEIA E FAMA DE EUROPEÍSTA. EM SEGUNDO LUGAR, CONVENCEU-ME A CORAGEM E A VISÃO DE PEDRO SANTANA LOPES, QUE OUSOU SAIR DO CONFORTO DO SEU PARTIDO DE SEMPRE PARA CRIAR UM NOVO PARTIDO, O QUE EM PORTUGAL EQUIVALE QUASE SEMPRE A FRACASSO. NÃO SERÁ ASSIM DESTA VEZ. E A TERCEIRA RAZÃO É A OPORTUNIDADE DE PODER CONTRIBUIR PARA A MUDANÇA DA EUROPA E DA RELAÇÃO DE PORTUGAL COM ELA. ACOMPANHO A INTEGRAÇÃO EUROPEIA DESDE OS PRIMÓRDIOS DA ADESÃO PORTUGUESA ATÉ AOS SEUS ÚLTIMOS ACORDES, CADA VEZ MAIS DESAFINADOS. E SABEREI FALAR DELA, DO QUE CORRE MAL E DAS SOLUÇÕES POSSÍVEIS – DIFICILMENTE QUEM A CONHEÇA MENOS BEM PODERÁ FAZÊ-LO. … SOMOS EUROPEÍSTAS E POR ISSO QUEREMOS MUDAR A EUROPA. SOMOS PORTUGUESES E POR ISSO QUEREMOS MUDAR A ATITUDE DE PORTUGAL NA EUROPA. SOMOS REALISTAS E NÃO PEDIMOS O IMPOSSÍVEL. APENAS O INDISPENSÁVEL. DEIXEM-ME QUE VOS DIGA AO QUE VIMOS. NÃO SÃO IDEIAS SIMPLISTAS, APENAS SIMPLES E SENSATAS. NÃO SÃO UTOPIAS, POIS SÃO REALIZÁVEIS. NÃO SÃO INÓCUAS, PORQUE VISAM A MUDANÇA. … ABRANGEMOS, COM PROPOSTAS CONCRETAS E FACTÍVEIS, TRÊS DIMENSÕES SIGNIFICATIVAS RELATIVAS À EUROPA. PRIMEIRA DIMENSÃO SIGNIFICATIVA: MUDAR AS REGRAS INSTITUCIONAIS E POLÍTICAS, PARA UMA NOVA ATITUDE PORTUGUESA NA EUROPA E EM RELAÇÃO A ELA. O PROCESSO DE DECISÃO TEM DE SER DEVOLVIDO AOS CIDADÃOS DE CADA UM DOS ESTADOS-MEMBROS. … PARA PERMITIR AOS PORTUGUESES APROPRIAREM-SE DO PROCESSO EUROPEU SUGERIMOS VÁRIAS MEDIDAS. HOJE APENAS ALGUMAS, EM BREVE APRESENTAREMOS EM MANIFESTO NA SEDE DA ALIANÇA O INVENTÁRIO COMPLETO. PRIMEIRA MEDIDA: DEFENDEMOS UM SISTEMA DE MANDATO NEGOCIADO POR PARTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. EM ASSUNTOS DE GRANDE IMPORTÂNCIA PARA PORTUGAL, O GOVERNO DEVERÁ OBTER DA PARTE DO PARLAMENTO UM MANDATO QUE ESTABELEÇA AS LINHAS VERMELHAS E OBJECTIVOS CONCRETOS, ANTES DA DELIBERAÇÃO NO CONSELHO DE MINISTROS DA UNIÃO EUROPEIA. ASSIM, QUALQUER DECISÃO RELEVANTE PARA PORTUGAL TOMADA EM BRUXELAS PASSARÁ POR UMA POSIÇÃO PRÉVIA DOS DEPUTADOS PORTUGUESES. TAL PARTICIPAÇÃO FAR-SE-Á NUM ESTÁDIO INICIAL, CONSIDERANDO AS COMPLEXIDADES DO PROCESSO DE DECISÃO EUROPEU, EM PARTICULAR O PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO. ESTE NOVO PROCEDIMENTO TEM AINDA UMA OUTRA ENORME VANTAGEM: PERMITIR A INTERVENÇÃO DOS PORTUGUESES ATRAVÉS DE DEBATES POPULARES, UTILIZANDO MEIOS QUE VÃO DOS TRADICIONAIS AOS DIGITAIS. E OS EURODEPUTADOS ELEITOS EM PORTUGAL PARTICIPARÃO DE FORMA VINCULATIVA NESSES COMO NOUTROS PROCESSOS RELATIVOS A MATÉRIAS EUROPEIAS, LOGO NACIONAIS. É TEMPO DE ACABAR A PARTICIPAÇÃO DO FAZ DE CONTA. …

debater a Europa – há 5 anos!

2 – ‘Apelo_ discutam a Europa_ Ainda há tempo

Renascer é preciso

Recomeçar, renascer, refazer e muitos outros verbos com a prefixo re: apenas para comunicar, provavelmente a mim mesmo, que está na hora de voltar a tratar assuntos europeus neste blog, com regularidade. Euratória foi criado como um espaço para conter reflexões, opiniões, controvérsias e simples informações sobre a União Europeia e tudo o que a rodeia. Durante largos meses foi exactamente isso que foi e, creio, com algum sucesso. Depois, por razões pessoais, sobretudo falta de tempo, mas também de outra natureza, para além de um período de nojo relacionado com a minha vida – e até a vida da União Europeia pré-brexit, fez-se este blog vazio. Hoje, num impulso, porque cresceram à desmesura as ameaças à integração europeia, esse grande projecto ocidental que se fez ideologia, causa, razão de ser e ambição, portador de paz, democracia e progresso, decidi voltar. Não estou seguro de ser capaz de voltar a levar o barco a navegar pelos estreitos turbulentos da nossa actual Europa, já para não falar do Mundo, mas tentarei. Com a ajuda de amigos, se puder e eles estiverem dispostos a isso. Não prometo nada, senão resiliência. Provavelmente escreverei para mim próprio no início, talvez seja ambição de mais pensar que passará disso. Mas a Europa, a União Europeia, os europeus, os portugueses merecem o meu esforço, não merecendo eu mais do que a sua condescendência, se tiverem essa bondade.

O primeiro post desta espécie de renascimento é para colar um pequeno filme sobre o brexit… a propósito, justamente no dia em que Theresa May anuncia eleições antecipadas…:

Europa, meu amor, odeio-te

AGREEKMENT: ENTRE O APOCALIPSE E A SALVAÇÃO

Caros amigos e amigas

Partilho convosco, não a crónica, que já o fiz, mas as reacções à crónica: muitos comentários, muito poucos de acordo, muitas críticas, muita desilusão e desencantamento com a Europa. Que sucedeu? Acreditem, que há quase vinte anos escrevo e recebo críticas pelo que escrevo, que nunca como agora sinto tão crispada a relação (pelo menos) dos meus conterrâneos com o projecto europeu. Que sucedeu? Bem, desde logo sucede um grande desconhecimento sobre a natureza da União Europeia e a sua visão; sucedem-se em sucessivas salvas as teorias da conspiração, tendo a Alemanha e os negócios como alvo, como se a Alemanha tivesse de ser a inevitável fonte de onde surgirá a terceira destruição da Europa e como se os negócios fossem alguma coisa má (não há sociedades sem negócios); sucede uma emoção (quase) sem freio, que pinta a vida, e o Mundo, e a Europa, a preto e branco, maniqueisticamente, e por isso critica a Europa, a vida, o Mundo, consoante favorece o preto e o branco, ignorando as cores todas do arco-íris, as cores da vida. A Europa é hoje um factor de divisão e confronto, quando ela tem sido, desde a criação das primordiais Comunidades Europeias, uma garantia de paz e prosperidade. Prosperidade sim, pois convém não esquecer que a União é a região do Mundo que mais riqueza cria anualmente (25%) e que até a zona euro é a terceira região mais rica (União/EUA/Zona euro).

Foram inábeis e infelizes os negociadores das instituições no acordo estabelecido com a Grécia? Claro que sim. Mas para além do facto de ser inevitável um acordo duro para o orgulho e até a soberania grega (para tentar que o acordo passe nos diferentes parlamentos e opiniões públicas das restantes 18 democracias), isso não torna o projecto menos válido, menos importante, menos fundador da nossa vida futura. Não faz decerto sentido deitar fora o bebé com a água suja do banho, para pedir emprestado um conhecido dito francês.

Quando cada vez mais pessoas racionais e de bom senso cedem às palavras inflamadas dos tribunos da demagogia, é grande o risco que a laboriosa construção, a obra que nasce e cresce e nos ilumina, soçobre com fragor e para sempre. É grande o risco que à União Europeia, complexa e difícil empreendimento político, económico e social a que se dedicaram os homens e mulheres deste distante cabo do Mundo chamado Europa, seja dado o destino fatal dos projectos incompreendidos e rejeitados em nome de ideologias extremas, fantasmas inventados, conspirações apócrifas:

E é por isso também essencial que quantos acreditam, os que vêm na União o caminho para o futuro – uma União renovada, reformada, democrática, participada e solidária, como ela pode e deve ser – se unam e falem, sem medo, na praça pública, no espaço público europeu; que defendam este projecto contra os seus muitos inimigos, da extrema à extrema, ao lado dos povos europeus por quem a União já tanto fez.

Podem as minhas crónicas, sobretudo quando falam da Europa, ser objecto de todos os anátemas; exprimir-me-ei porventura a espaços com excesso de retórica e colorido; mas não deixarei que estiole a minha convicção: unidos neste nosso pequeno continente, das distantes florestas escandinavas ao solo latino do Sul e do sol, seremos decerto mais fortes, do que cada um por si – num salve-se quem puder em que ninguém se salvará, pois a Europa do cada um por si lentamente entrará na noite da sua própria decadência.

Bem hajam

Economistas pelo Sim: afinal, também há. E são gregos…

A seguinte declaração, publicada hoje no jornal grego Ekathimerini, é assinada por 246 professores de Escolas e Universidades de Economia de toda a Grécia. 

“Através desta declaração, queremos expressar a nossa preocupação com os últimos desenvolvimentos no nosso país. Acreditamos firmemente que, neste momento crucial, é de importância extrema evitar os excessos, mostrar coesão nacional para preservar a nossa posição na eurozona e na UE, e recuperar credibilidade na comunidade internacional. Além disso, o programa de consolidação fiscal, esquissado juntamente com os nossos parceiros da União e outros credores como o FMI, devia caracterizar-se por consequências recessivas tão baixas quanto possível e pelo nível mais alto possível de protecção social, dirigido ao crescimento e criação de emprego no sector privado tão depressa quanto possível. O prolongamento da incerteza política levou a economia a uma recessão renovada, inverteu o declínio no desemprego, baixou a receita fiscal e aumentou o défice público.

Tendo em conta que as propostas dos nossos credores e do governo grego estavam a convergir desde a última sexta-feira, acreditamos que o que está verdadeiramente em conta no referendo próximo, independentemente da formulação da pergunta, é se a Grécia permanecerá ou não na eurozona e, possivelmente, se se manterá na própria UE.

O financiamento da economia grega pelos países da eurozona foi suspenso no fim-de-semana, depois do governo grego ter abandonado as negociações, numa altura em que não parecem estar disponíveis quaisquer alternativas de financiamento. Estamos agora na primeira fase de um processo traiçoeiro que, se não for urgentemente revertido, levará a caóticos incumprimentos da dívida e à saída da zona euro. O encerramento dos bancos e o controlo de capitais (até hoje evitados durante a profunda crise que vivemos) constituem apenas a primeira ruptura com a eurozona e a própria União.

Acreditamos que as consequências recessivas de um incumprimento da dívida e da saída da zona euro, especialmente de uma forma tão caótica e superficial, serão piores do que um compromisso doloroso com os nossos parceiros da União e do FMI. A saída desordenada do nosso país do núcleo duro da Europa terá consequências económicas, sociais, políticas e geopolíticas desastrosas.

Consequências de curto prazo: encerramento de bancos, diminuição do valor dos depósitos, declínio acentuado do turismo, escassez de produtos básicos e matérias primas, Mercado negro, hiperinflação, falências de empresas e um grande aumento do desemprego, diminuição rápida dos salários reais e do valor real das pensões, recessão profunda e problemas sérios no funcionamento do sistema público de saúde e da defesa, bem como agitação social.

Consequências de médio-prazo: isolamento internacional do país, sem acesso ao mercado internacional de capitais por vários anos, baixo crescimento e investimento anémico, desemprego elevado combinado com altas taxas de inflação, suspensão do fluxo de fundos estruturais, declínio significativo no nível de vida, diminuição das disponibilidades dos bens e serviços públicos básicos.·
Todos estes desenvolvimentos não deviam ter sucedido após 5 anos de grandes sacrifícios por parte do povo grego, com um tremendo ajustamento fiscal e justamente quando a economia começava a recuperar, com expectativas favoráveis para novo alívio das nossas obrigações com a dívida pública. Não deviam ter acontecido num período em que a economia europeia volta a taxas de crescimento positivas e outros países europeus periféricos começam a crescer e a reduzir o desemprego. Não deviam ter sucedido num tempo favorável para mais integração europeia que beneficiará o Sul, e quando o BCE apoia o crescimento com excesso de liquidez a taxas de juro zero.

Deixar a eurozona, especialmente desta forma caótica e superficial, levaria provavelmente também ao processo de saída da União, com consequências imprevisíveis mas decerto desastrosas para a segurança nacional e a estabilidade democrática do país. Por todas estas razões, a Grécia deve permanecer no “coração” da UE, que é a eurozona.

Por todas estas razões, a nossa resposta inequívoca à questão real do referendo é: SIM. Sim à Europa.

(tradução minha)

“O Fim do euro” comentado…

A crónica O Fim do Euro provocou muitos comentários, quase sempre com elevada carga emocional e até algumas reacções mais fortes. Porque julguei justificar-se, respondi aos leitores do Observador procurando enquadrar o tema e aprofundar alguns argumentos que, por poder ter interesse para alguns, agora aqui partilho.

Meus caros leitores e amigos
De vez em quando, por razões de agenda e respectivas consequências, é-me impossível responder a todos e a cada um, como gosto e uso fazer.
Foi o caso esta semana, até pela obrigação – para mim cívica – de acorrer a todos os pedidos para (tentar) explicar, comentar e analisar a situação helénica. Por isso, com grande pena minha, não pude corresponder-me com cada um de vós, exercício que é para mim, a um tempo, reconfortante – por saber que há quem leia as minha crónicas despretensiosas – e muito importante – por aprender sempre com quem comenta, o que me permite até, por vezes, emendar determinados hábitos de escrita, vícios de pensamento, ideias feitas.
Grato por isso, tal como grato estou pela oportunidade que este jornal – que por vezes alguns criticam, dizendo-o presa de agendas, fonte de preconceitos, bastião ideológico – me dá de escrever o que quero e como quero, com opiniões que são as minhas e nada têm a ver com agendas, ideologias ou preconceitos. Já o expliquei numa crónica recente, persisto e não desisto, graças também ao Observador.

Sobre a Europa, naturalmente, tenho ideias claras e estabelecidas ao longo de (já!) 31 anos de estudo, investigação, publicação, experiência vivida. Sou um defensor estrénuo desta integração europeia, que reputo de fundamental para o futuro dos povos europeus e em particular deste Portugal de que tanto gosto e que de certa forma representei ao longo dos anos.

Acredito na Europa porque ela é o meu continente – e o continente de todos os portugueses. Porque sem ela, estou convicto (muito fortemente) seremos sempre um pequeno povo com uma pequena economia, sujeita ao poder dos poderosos sem uma palavra a dizer; e em defesa dessa tese convoco a história em testemunho. Portugal, queiramos ou não, com maior ou menos fanatismo ou ideologia, foi sempre um país muito mais pobre (relativamente) do que é hoje. A realidade é esta, os números provam-no, tal como os factos provam que a soberania que muitos invocam foi sempre muito – demasiado – relativa, no que toca à nossa relação com os grandes poderes europeus (Espanha, França, sobretudo o Reino Unido).
Vivemos aliás uma época paradoxal: ao mesmo tempo que procuramos ancorar-nos definitiva e solidamente na União, onde temos voz, participamos nas decisões, podendo influenciá-las decisivamente, somos parceiros a tempo inteiro, vamos vendo passar para mãos estrangeiras – de outros continentes – empresas e instituições portuguesas; isto em si não tem mal nenhum, é até um bem, não se desse o caso de, em geral, se tratar de capital de proveniência desconhecida ou obscura, de países com duvidoso curriculum democrático ou de falta de respeito pelos direitos fundamentais.
Soberania? Mais e melhor só enquanto nos mantivermos dentro desta realidade europeia – desta integração – que já nos trouxe de uma média (de pib per capita na Europa dos 12) de 52 para 78% (actualmente, numa Europa de 28).
A minha crónica é uma ficção, claro, mas construída com base no que sei – e posso prever – da construção europeia e das consequências de um grexit. Como tenho defendido convictamente, até nestas páginas, o euro foi mal construído mas agora que existe – e as razões da sua existência nestes termos são exclusivamente políticas e de interesses nacionais que predominaram sobre o bom senso – não pode ser quebrado, sob pena de uma rápida implosão; sem euro (ou qualquer outra forma de integração monetária), o mercado interno durará duas ou três décadas, no máximo, e também já expliquei as razões desta minha tese; sem mercado interno, a União não fará mais sentido e tornar-se-á, como tantas outras, uma zona de livre troca.
Ficaremos melhor? Uns vão dizer que sim, eu estou certo que não.
Claro que esta minha ficção despertou paixões, irritações, alguns insultos. Agradeço (muito sinceramente) a todos os que tiveram palavras de incentivo e simpatia, desculpo os restantes, pois percebo a incomodidade e até, provavelmente, a emoção que também lhes despertou esta crónica.
Nada que me incomode muito, pelo contrário: ainda bem que reagem, é sinal que conta, um ponto mais no conto europeu que vimos escrevendo.
Com muita estima

(texto editado, pois a versão do Observador, escrita ao correr da pena, tinha algumas gralhas e repetições escusadas)

E contudo, ela move-se.

E enquanto andamos todos – toda a Europa e o Mundo inteiro – a olhar para a árvore, a floresta continua a mover-se: 

O roaming na Europa acaba em 2017.

Quem disse que são só más notícias (em breve, mais notícias sobre as restantes árvores; verão que a Grécia é apenas uma delas, e nem sequer a mais imponente).