Início » A opinião dos outros
Category Archives: A opinião dos outros
Notícia: os ingleses não saem da União Europeia (acho…)
Graças ao meu amigo Michael Schackleton, um artigo notável sobre a razão porque os ingleses devem permanecer na União Europeia – melhor, porque vão permanecer na União Europeia (esta segunda parte tem boa parte de wishfull thinking da minha parte). Uma explicação simples e clara sobre os equívocos sobre a União disseminados por partidos como o Ukip.
http://www.britishinfluence.org/who_do_you_think_you_are_kidding_mr_farage
Uma reflexão sobre o referendo escocês, do Luís Teixeira da Costa
O meu amigo Luís, há muito anos a viver em Bruxelas, um homem do mundo, enviou-me algumas palavras sobre o que está em causa no referendo de hoje. É uma reflexão interessante e ele autorizou-me a partilhá-la aqui. Um pouco à laia de “food for thought”, de que bem precisamos, quando condimentada a gosto e com sabedoria.
“Qualquer que seja o resultado será importante para as outras regiões Europeias com veleidades independentistas, maxime Catalunha e Flandres. Muito depende do que se pretende de um pais. Dois ou três comentários.
i) “Independence=road to oblivion” na cena internacional. Veja-se a Noruega que mesmo com os milhares de milhões dos petrodolares por vezes esbanjados em conferências internacionais não consegue estabelecer-se como ” meaningful player” na cena internacional.
ii) Incerteza económico-financeira – é óbvio que as empresas, bancos e outros criadores de riqueza se questionam e têm sérias dúvidas da motivação dos independentistas…da viabilidade do Estado então criado, da carga fiscal, da corrupção, etc, etc. Como o dinheiro não conhece fronteiras sairá do novo país em grandes quantidades. As multinacionais Americanas serão as primeiras a sair porque elas sobretudo não têm coração. No caso da Escócia, e como o petróleo acabará mais cedo do que tarde, será um problema bicudo. Um clima inóspito e muito a Norte da nossa Europa não é um destino apetecível mesmo com os prémios oferecidos aos gestores que para lá vão trabalhar. Tornar-se uma nova Suíça? Não é assim tão fácil como sabes…outros tentaram mas falharam
iii) Ao nível jurídico estes novos países terão que se juntar à fila, atrás da Sérvia, para a adesão à UE. Não é automático pois há um processo a respeitar. Esse tem sido o mais forte dissuasivo da independência da Flandres por exemplo. Sim a retórica continua…mas não passa disso mesmo: retórica. Wait and see…”
Série Juncker, sim ou não. E agora, o dream-team?
À medida que se confirma a ideia de que David Cameron vai exigir um voto sobre a escolha de Juncker como candidato proposto pelo Conselho Europeu, multiplicam-se também os apelos, directos ou indirectos, ao entendimento entre o Reino Unido e a Alemanha, com olhos no futuro da Europa.
Assim, e desde logo, o documento de estratégia em que o Presidente do Conselho Europeu, Van Rompuy, tem vindo a trabalhar, com vista à reforma das instituições e das políticas da União, parece conter cada vez mais (à medida que evoluiu de rascunho em rascunho) uma espécie de “cabaz para todos”; isto é, tenta compatibilizar o cansaço generalizado com a austeridade (e as exigências italianas e de outros países do Sul), com o rigor e a garantia de mercado livre caras à Alemanha e até a devolução de poderes desesperadamente pedida pelos ingleses. Não sei bem se é uma boa notícia (sim, é um eufemismo para dizer que acho que não), mas trata-se de uma tentativa de dar resposta ao desencanto europeu e às exigências nacionais.
(a esse propósito, veja-se o seguinte parágrafo da versão mais actual desse documento, hoje publicada no Financial Times e que mostra o que seria uma faceta nova dessa Europa da austeridade em vigor:
“Invest and prepare our economies for the future: by adressing overdue investment needs in transport, energy and research, skills and innovation; by mobilising to that end the right mix of private and public funding and facilitating long-term investments through the immediate mobilisation of existing financial instruments and the development of new fanatical capacities; by encouraging innovation and research (…)” (com as minhas desculpas pela falta de tradução).
Para além disso, o Financial Times escreve ainda, segundo o resumo feito pelo sítio eurotopics.net:
“Ms Merkel and Mr Cameron also have similar ideas about reforming the EU: both are economic liberals who emphasise competitiveness. … Left to their own devices, Mr Cameron and Ms Merkel could probably have sorted out the commission presidency and a host of other EU issues over a convivial lunch. In reality, both leaders are too trapped by domestic political pressures to strike a deal. That is a shame because the broader basis for Anglo-German co-operation in Europe is stronger than it has been for many years. … Mr Cameron and Ms Merkel will be on opposite sides this week. In the longer term, they could yet form a fruitful alliance.”
Um “dreamteam Merkel-Cameron”? Porque não?
Na sexta-feira, provavelmente os chefes de Estado e de governo vão ser forçados a votar contra ou a favor de Juncker como o candidato do Conselho Europeu pela primeira vez desde sempre. Tudo aponta para que o luxemburguês venha a ser aprovado, ainda que nestas coisas… nunca se deva confiar em demasia.
Mas os sinais são cada vez mais de busca de um caminho para o futuro que tenha em conta a vontade dos europeus. Ainda que isso não seja fácil, claro, considerando a necessidade de conciliar… o muito difícil de conciliar. Veremos como se saem os líderes europeus, das diferentes instituições.
Eu e o Observador
Há algum tempo, fui convidado a participar como cronista nesta nova aventura jornalística – o Observador -, que para mim não passa de um passo mais na busca, que é global, de novos caminhos para os jornais (e para a comunicação social em geral).
Aceitei com gosto, como sempre gosto de aceitar os desafios que são estimulantes, porque de sucesso não garantido à partida. Fui ainda assim alertado, por amigos e conhecidos, para o risco de participar num projecto que (segundo eles e outros, que não são nem amigos nem conhecidos) cheirava a “ultra-liberalismo”.
Confesso que sempre tive dificuldade em lidar com chavões, sobretudo quando têm pouca base científica. Mas, tendo eu um conjunto (espero que sólido) de convicções, ideais e princípios que, em muitos casos, são entre si conflituantes (pois é), não me pareceu que o facto de fazer parte de um desafio, sob todos os outros ângulos, aliciante, fosse contribuir quer para a minha descredibilização quer para abundar no sentido do tal “ultra-liberalismo” que não sei bem o que é. Aceitei, claro.
E estou naturalmente encantado. Até agora, o jornal cumpriu as suas promessas. E, na questão “ideológica” em apreço, permite-me até discordar de opiniões que desafiam as minhas, com total liberdade e frontalidade. Afinal, se “ultra-liberalismo” significar liberdade total para concordar, discordar e debater ideias, então eu sou ultra-liberal.
Mas atenção: só se significar isso. Isto é: quem disser isso de mim, se faz favor, publique pelo menos a frase anterior…
O que está em causa é o nosso futuro.
Tempo de decisão: a Inglaterra tem agora de decidir se fica na Europa
O título deste post é a tradução da minha lavra de um editorial do Spiegel On line (de ontem). Passou relativamente despercebido em Portugal, mas é muito relevante e o seu conteúdo não pode (não deveria) deixar de alimentar o debate público sobre o futuro da União Europeia e a vontade de nela permanecer (ou não) de alguns dos seus membros.
E não se diga ser isso que está em causa, mas sim o rumo da União: é que hoje em dia, explicitamente (pela voz de Marine Le Pen e outros vociferantes anti-europeus), o que se trata de pôr em causa é a própria existência da União Europeia. A sua razão de ser, a sua fundamentação e justificação.
Não poderei traduzir o texto todo, mas aqui ficam alguns destaques, seguidos pelo artigo na íntegra em inglês.
“Durante anos, a Inglaterra fez chantagem e gozou com a União Europeia (UE). Chegou a altura do Reino Unido fazer uma escolha: pode seguir as regras ou pode abandonar a UE.
(…) O Reino Unido e a UE são como um casal que se faz mutuamente infeliz, mas que evita fazer qualquer coisa a esse respeito.
(…) Seria uma tragédia se a Inglaterra saísse da UE – uma perda política, económica e cultural.
(…) Contudo, a Grã-Bretanha nunca teve grande apetite pela integração europeia. A perspectiva que prevalece em Londres é que a União devia ser uma gloriosa zona de comércio livre (…)
A Europa tomou em conta as sensibilidades e particularidades inglesas por tempo de mais. Permitiu-se ser vítima de chantagem e fazer de idiota vezes sem conta. Foi paciente ao ponto da auto-negação. Durante décadas, a Inglaterra foi perdoada por cada veto que emitiu, e cada um dos seus desejos especiais foi concedido. (…) Nada disso fez mudar a visão das coisas dos ingleses e o país está mais distante da União do que alguma vez esteve.
Chegou a altura de uma clarificação. (…) Ela pode chegar agora – com a escolha do futuro Presidente da Comissão.
(…) A União não pode deixar-se chantagear pelos ingleses mais três anos e recusar-se a dar ao povo europeu o que lhes foi assegurado antes da eleição – que poderiam usar o seu voto para determinar o próximo Presidente da Comissão. Se a União não cumprir essa promessa, perde toda a credibilidade e aceitação.
A União deverá implementar as convicções da maioria e não as que são aceitáveis para um Estado-membro. A Inglaterra pode decidir como responde a esta situação – se quer alinhar com essa decisão ou se quer abandonar a Europa.
O Reino Unido é sem dúvida importante. Mas a escolha entre uma União mais democrática e a continuação da Inglaterra como membro é clara. A Europa deve escolher a democracia.
O ARTIGO
Decision Time: Britain Must Choose Now If It Will Stay in Europe
For years Britain has blackmailed and made a fool out of the EU. The United Kingdom must finally make a choice: It can play by the rules or it can leave the European Union.
Following last week’s elections for the European Parliament, Europe finds itself at a historical turning point. It faces two questions. The first is that of how seriously the European Union is about its promise to become more democratic. The second is whether Britain can remain a member of the EU.
The extent to which those two questions are inextricably linked became clear last week when Prime Minister David Cameron refused to recognize the results of the European election and nominate winner Jean-Claude Juncker as president of the European Commission, the EU’s executive. Most countries and leaders in the European Council, the powerful body representing EU leaders, had previously agreed to this procedure. It was a significant promise to the people of Europe — they were to be provided with a greater say and they were supposed to be given a sign that their vote counts, that it has concrete effects. But Cameron threw a spanner in the works.
The crisis in European democracy is also the consequence of an unsettled relationship. Both the EU and Britain have perceived their relations as a burden in recent years. People in Brussels suffer under a London that is constantly thwarting European unity, that has slammed the brakes on progress and has doggedly prevented a deepening of relations.
The Tipping Point
In Britain, people suffer under the EU itself. It is a chronic suffering, one without any prospects of relief. During the May 25 European election, the anti-EU UKIP party garnered 27.5 percent of the vote, making it the strongest British party in the new European Parliament. And this, despite the fact that Britain’s other political parties — with the exception of the Liberal Democrats — are about as EU-friendly as Germany’s euroskeptic AFD.
Great Britain and the EU are like a couple that make each other unhappy but shy away from doing anything about it.
To be sure, it would be a tragedy if Britain were to leave the European Union — a political, economic and cultural loss. Indeed, the British are to be credited with much of that which makes the Continent so special today and of which people are so proud. They introduced democracy at a time when absolutism prevailed in Europe. They showed us the advantages of an economic liberalism that, despite all its weaknesses, ultimately transformed Europe into a prosperous Continent. At all times, the British have provided us with cultural enrichment.
However, Great Britain has never had an appetite for European integration. The prevailing perspective in London is that the EU should be a glorified free-trade zone — at best a loose alliance of states, but don’t mention the term political union.
There are selfish and nationalist reasons for this, but they are insufficient for explaining the phenomenon. It isn’t geography — the fact that the country is an island — that makes the United Kingdom an exception. The country also possesses a different political culture. For the British, who have never even drawn up their own constitution and instead rely on a collection of sundry documents to apply rule of law, the EU’s stringent regulations remain alien today. In addition, one must not forget the fact that Britain wants to maintain a special relationship with the United States, one that is also intended to provide a counterweight to the European Union.
Enough Is Enough
Regardless, Europe has taken British sensitivities and particularities into account for long enough. The EU has allowed itself to be blackmailed and made to look like a fool time and again. It was patient to the point of self-denial. For decades England was forgiven for every veto it cast; every special wish was granted. When Margaret Thatcher shouted in 1984, “I want my money back,” the EU granted her the “British rebate,” which the country still profits from today. None of this did anything to change the Brits’ view of things, and the country is more distant from the EU today than it has ever been.
The time has now come for a clarification. And it’s even possible the European Union will have to decide what is most important: a more democratic Europe or having Britain remain a member. This clarification must come now — with the appointment of the future European Commission president. It’s a decision which cannot wait until 2017, the year by which David Cameron has said he will hold a referendum on Britain’s EU membership.
The EU cannot allow itself to be blackmailed by the British for another three years and refuse to give the people of Europe what was assured to them before the election — that they could use their vote to determine the next president of the European Commission. If the EU doesn’t fulfill that promise, it will lose all credibility and acceptance.
This decision is due to be made at the next EU summit in June. At the summit, EU leaders must fulfill their promise and nominate Jean-Claude Juncker, even if that creates even greater difficulties for Cameron back home and even if he threatens to withdraw his country from the EU. The EU should implement the convictions of a majority and not those that are acceptable to one member state. Britain can then decide how it wants to respond to this new situation in Europe — whether it wants to go along with it or if it wants to leave.
Britain is important to be sure. But the choice between a more democratic EU and Britain’s continued membership is clear. Europe must choose democracy.
Enquanto isso, na Bélgica…
(tradução livre do texto em inglês, enviado pelo meu correspondente e amigo na Bélgica, Rolf Falter, com agradecimentos)
“As eleições europeias na Bélgica desenrolam-se à margem das eleições nacionais. Por isso, não há um grande assunto em discussão.
Quanto à participação: o voto é obrigatório na Bélgica, por isso não se espera uma baixa participação (embora cerca de 10% do eleitorado fique em casa e sendo impossível levar todos a tribunal, ninguém é julgado por isso). Como sabem, temos partidos e distritos eleitorais separados na Flandres, Valónia e na pequena comunidade alemã. Agregadamente, contudo, e em termos de mandatos, espero os seguintes resultados:
Um status quo para o PPE e os liberais (ambos com 5), a perda de um lugar para os Socialistas. 3 lugares em vez de 4 para os Verdes, pois tinham um membro nos nacionalistas flamengos. Estes terão provavelmente 3 membros no próximo Parlamento, provavelmente em ocnjunto com os conservadores britânicos (nada de oficial, por enquanto, mas todas as opções estão em aberto). A extrema direita do Vlaams Belang (grupo dos não inscritos) diminuirá de 2 para 1. E partido LDD, com um um membro no Grupo dos Conservadores e Reformistas, desaparecerá.
Os liberais estão vulneráveis e podem acabar com 4 membros, ficando o PPE, com sorte, com 6 deputados. Os socialistas podem até perder um segundo mandato, caso a extrema esquerda faça um bom resultado na Valónia.”
Texto original:
“The European elections in Belgium are taking place in the margin of the national elections. So no big issue at hand. As for the participation: in Belgium voting is obligatory, so no low participation expected (although about 10 % of the electorate stays at home and it is of course impossible to bring all of them,to justice, so nobody is). As you know we have separate parties and electoral districts in Flanders, Wallony and the small German community. But on aggregate, and in seats, I expect the following results: a status quo for epp and alde (both 5), a loss of one seat for S&D. 3 seats instead of 4 for Greens/EFA because they had one member of the Flemish nationalists. These Flemish nationalists will probably be with 3 in the next EP and are likely to go together with the British Tories (nothing official yet, so all options are open). The extreme right Vlaams Belang (group of non-attached) will go from 2 to 1. And the LDD party, who had one member in the ECR, will disappear. The liberals are vulnerable, and could end up with 4, the EPP with 6 with some luck. the socialists could even lose a second seat if the extreme left makes a big gain in Wallony.”
AS ELEIÇÕES EUROPEIAS COMEÇAM AMANHÃ: ESTADO DA ARTE
Pois é, caros amigos da Euratória, as eleições para o Parlamento Europeu iniciam-se amanhã e depois, no Reino Unido e na Irlanda, respectivamente. Algumas informações sobre a sua realização e divulgação de resultados, recebida dos meus amigos e correspondentes locais:
No Reino Unido, as urnas estarão abertas entre as 07h00 e as 22h00 de quinta-feira (amanhã), mas os resultados só começarão a ser conhecidos no domingo à noite. Na Irlanda, as eleições europeias terão lugar na sexta-feira dia 23 de Maio no mesmo horário. A contagem iniciar-se-à no domingo à noite.
Actualizando informações:
Tudo indica que a participação será baixa em geral (+/- 44%). Infelizmente, se se confirmar este valor, estaremos muito próximo do mínimo histórico de 2009 (43%) e nem o facto de pela primeira vez, desde 1979, haver um aumento da participação em percentagem, poderá servir de consolo. Afinal, os europeus não se sentem assim tão entusiasmados com a possibilidade de escolher o Presidente da Comissão Europeia? Ou será antes que não lhes foi bem explicado o significado dessa escolha, em campanhas eleitorais mais a olhar para os umbigos (nacionais) do que para a dimensão europeia (não foi só em Portugal)?
Seja como for, prevêem-se taxas muito baixas de participação em França (39%), Suécia (27%), Eslovénia (25%), Polónia (23%) e Eslováquia, uns incríveis 20%!
E Portugal? Veremos. O recorde de abstenção data de 1994 (com 65,4%), logo seguido das recentes eleições de 2009 (com 63,2%, isto é, uma taxa de participação de 36,8%). Muitos analistas apostam num resultado parecido ou semelhante. Seria um ainda maior fiasco, considerando que as eleições europeias em Portugal se realizaram todas em datas próximas do 10 de Junho e dos feriados da época, justificação que nem sequer se poderia utilizar desta vez. Culpar quem, afinal? Escuso-me naturalmente a repetir a frase que acima usei (campanhas eleitorais mais a olhar para os umbigos (nacionais) do que para a dimensão europeia) e limito-me a pedir que avaliem bem o conteúdo dos argumentos, intervenções, discursos e debates entre candidatos de todos os quadrantes – e depois decida cada um de acordo com o respectivo juízo.
Mas, como disse, veremos.
Agradecimentos ao John Edward e Bjorn Kjellstrom, na Escócia e Inglaterra, Dermot Scott, na Irlanda, e Natasa Gorsek.
Um “cheirinho” da campanha na Europa
Da minha correspondente Natasa Gorsek, uma análise sobre a natureza da campanha nalguns Estados-membros. Eis a tradução livre do texto (escrito originalmente em inglês):
“A nossa análise mostra grandes diferenças entre os Estados-membros relativamente à intensidade da campanha. A crise Rússi/Ucrània teve maior relevância nos media na última semana – nalguns países (Alemanha, Bulgária, Estónia, Letónia) com sentimentos pró-russos. É interessante verificar quais são os principais tópicos do debate: na Dinamarca, o turismo do bem-estar e o dumping social, na Holanda a preservação do modelo social europeu, a imigração na Itália, na Irlanda as críticas do Sinn Fein ao consenso de Bruxelas, no Chipre a recuperação económica e os acontecimentos na Síria, Turquia, Ucrânia, a Finlância contra os cortes nas despesas, na Suécia a questão dos cidadãos de origem cigana, fortes ataques a Merkel e aos falcãos da austeridade em Espanha”. O mesmo acontecendo em Portugal, acrescento eu.
Eis o texto original:
“Our analysis shows big differences among MS in the intensity of campaign. Ukraine/Russia crisis were more prominent in media last week – in some countries (DE,BG,EE,LV) with pro-Russian feelings. It is interesting to see the main topics of the debate: DK “welfare turism” and social dumping, NL preservation of social welfare model, migration in IT, IE Sinn Fein criticising Brussels consensus, CY economic recovery and events in Syria, Turkey, Ukraine, FI against spending cuts, SE EU citizens of Roma origin, ES strong attacks to Markel – led austerity hawks”.
Comentários aos debates entre os candidatos presidenciais (o 1º debate)…
Comentários do meu correspondente e amigo Michael Shackleton sobre o primeiro debate Presidencial. O interesse desta análise reside sobretudo na grande capacidade crítica e intelectual de Michael, que em breve será apresentado na secção Os meus Convidados, professor em Maastricht, durante muitos anos funcionário europeu e co-autor do muito conhecido livro Parlamento Europeu. Eis como Michael comentou este primeiro debate (já lhe pedi a opinião sobre os seguintes):
(tradução livre): “Passei uma grande noite em Maastrich, no primeiro debate presidencial europeu. Se não o viram a noite passado no Euronews podem ainda encontrá-lo no website Europe Decides (nota euratória: e também neste blog, com o respectivo link). Não aprenderão muito sobre as políticas específicas dos candidatos mas terão uma visão clara de que tipo de pessoas são e quão bem estiveram no debate.
A ideia geral em Maastricht e nos eventos à margem organizados em praticamente todos os Estados-membros da União, incluindo 3 em Bruxelas e 3 em Paris e um em Washington DC, é que Verhofstadt foi o claro vencedor e Juncker esteve menos bem. Simplesmente não pareceu estar a divertir-se, enquanto todos os outros rejubilaram por estar rodeados por centenas de jovens estudantes.
Notável é que quase toda a gente considerou o debate interessante de seguir. Até os cínicos não o acharam aborrecido. Prevejo que será uma experiência a repetir, pois as pessoas gostam da oportunidade de identificar (possíveis) vencedores e perdedores. Tem de haver emoção, se queremos que as pessoas votem e a noite passado tive um vislumbre de um possível futuro. Duas questões foram suscitadas:
– o que sucederá nos próximos debates a 9 de Maio no Instituto Europeu de Florença e a 15 de Maio no Parlamento Europeu? Será possível haver verdadeiros debates sem interpretação? Tsipras não participou ontem porque não queria falar em inglês. Mudará de opinião no dia 15 do PE? Quanto ao Instituto, propõe que se use italiano e inglês? A seguir.
– em segundo lugar, influenciarão os debates a escolha do Presidente da Comissão? Na minha opinião, a imagem conta em política e não vejo o Conselho Europeu a designar Juncker se ele não tiver um melhor desempenho nos restantes dois debates. Não estou a dizer que Schulz ganhará o lugar mas afirmo que os debates podem prejudicar reputações. Quanto a Verhofstadt, a sua reputação como um potencial Presidente do Parlamento Europeu não foi prejudicada.
Chega destas incoerências mas sinceramente creio que o evento da noite passada foi muito mais interessante do que a discussão estéril no Reino Unido (nota euratória: Michael é inglês). (…)
O texto original:
I have just spent a great evening in Maastricht at the first European Presidential debate. If you did not see last night on Euronews or streamed, you can still see it on the Europe Decides website.
You will not learn much about the specific policies of the candidates but you will get a clear sense of what kind of people they are and how good they are in debate.
The general view in Maastricht and in side events organised in nearly every EU state, including 3 in Brussels and 3 in Paris, plus one in Washington DC was that Verhofstadt was the clear winner and Juncker performed the least well. He simply did not look like he was enjoying himself, whereas all the other revelled in being surrounded by hundreds of young students.
What has been very striking is that nearly everyone found it interesting to watch. Even the cynics did not find it boring. I predict that it is an experiment that will be repeated because people enjoy the chance of identifying winners and losers. There has to be emotion if you want people to vote and last night I caught a glimpse of a possible future.
Two questions now pose themselves:
– what will happen at the next debates on 9 May at EUI in Florence and on 15 May at the EP? Will it be possible to have real debates with interpretation? Tsipras did not come yesterday because he did not want to speak in English. Will he change his mind on the 15th at the EP? As for the EUI, they propose using Italian and English? Watch and see.
– second, will the debates influence the choice of Commission President? For me image counts in politics and I do not see the European Council nominating Juncker if he does not do well in the other two debates. I am not predicting Schulz will get the job but I do think the debates can lose you reputation. As for Verhofstadt, he has not done his reputation any harm as a potential President of the Parliament.
Enough of these ramblings but I honestly found last night’s event so much more enjoyable than the sterile discussion in the UK.
Enquanto isso, em Malta
Do meu convidado e amigo daquele país:
In Malta the result is almost definitely 3 PES and 3 EPP. A gain of 1 for EPP which is now in opposition. The PES government is seeking to be the first sitting government to win an absolute majority of votes in EP elections anywhere in Europe. Given its 55% win last year it might actually manage.
Tradução livre: “Em Malta o resultado é quase definitivamente 3 Socialistas e 3 PPE’s (esquerda, centro direita). Trata-se de um ganho de 1 para o PPE, que está actualmente na oposição. O governo socialista, PES, tenta ser o primeiro governo em funções a ganhar por uma maioria abosoluta de votos em eleições europeias em qualquer lado na Europa. Atendendo à sua vitória por 55% no ano passado, pode de facto ser bem sucedido”. Curioso é que a maioria absoluta – conforme confirmado pelo meu correspondente – não implica necessariamente um resultado distinto do empate em termos de número de mandatos.
Em Malta, quer o primeiro ministro, Joseph Muscat, quer o líder da oposição, Simon Busuttil, são antigos deputados europeus. O mesmo acontece com o vice-primeiro ministro Louis Grech e o das Finanças, Edward Sciclunam, numa demonstração de que em Malta a representação europeia é um passo para maiores responsabilidades, segundo Julian Vassalo, meu convidado e amigo, cuja apresentação poderão encontrar na secção Os meus Convidados, em breve.