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O liberalismo moderado

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caput II

Sou liberal. Tenho orgulho nisso. Neste primeiro texto dedicado ao liberalismo, tentarei, modestamente, explicar o que significa para mim ser liberal. E liberal moderado.

Sou moderado, como escrevi no caput 1 desta série, podendo sê-lo de forma radical se tal for necessário para defender soluções equilibradas e sensatas, contra os radicalismos que assolam as nossas sociedades ocidentais.

Sou, por isso, radicalmente moderado.

Sou de direita. Tenho orgulho em sê-lo. Não explicarei neste texto o que significa para mim ser de direita, fá-lo-ei com tempo e pausadamente noutra ocasião. Registo apenas que sou a favor de um Estado necessário – tão pequeno quanto possível, tão interventivo quanto necessário – e porque não considero que a liberdade no plano dos costumes, embora desejável numa perspectiva de liberdade de escolha individual, deva ser absoluta.

A minha grande causa no plano político e social é a liberdade. Liberdade de agir, de pensar, de estar, de ser. Com justiça social, é evidente. Sem pactuar com a ideia, muito de um ultraliberalismo radical – vulgo neoliberalismo -, de uma economia deixada a si mesma (e aos dominantes), com um mercado sem regras e onde vigore a lei do mais forte. Na verdade, a liberdade não pode ser mais livre para uns do que para outros.

E aos costumes? Aos costumes digo, como a tudo o resto: moderação, sempre. Liberal, com juízo, sem destruir o edifício moral que tantos séculos levou às nossas sociedades ocidentais a erguer, e tanto sofrimento, e dedicação, e inteligência. Aceito as opções de cada um, atento o respeito pela respectiva liberdade, sempre e quando essas opções não ponham em causa as regras sobre as quais se funda a moral social dominante.

Porque, não tenhamos dúvidas: há sempre uma moral social dominante. As regras morais que a estruturam (e dela brotam) podem ser impostas por uma elite ou classe predominante ou resultarem de uma evolução feliz, baseada em princípios, valores, ideais e normas (jurídicas) geradas, como refiro no parágrafo anterior, ao longo de séculos – forjadas na luta, por vezes longa e difícil, entre visões contrastantes sobre o que é moral e o que não é.

A civilização que é a nossa foi-se fazendo nessa tensão permanente e em cada época histórica determinada, entre o que era e não era moral nesse tempo – entre a escravatura como coisa natural do ser humano e a escravatura como abominação, entre a inferioridade assumida da mulher e a revelação da dignidade igual da condição feminina, entre a pedofilia como prática comum e a pedofilia como um crime, entre o racismo coisa natural e o racismo coisa abjecta, entre a guerra como prática inerente aos homens e a guerra como sinal de barbárie. Nessa luta quase sempre entre contrários medrou, tímida e de forma desesperantemente lenta, por vezes voltando a murchar, mas persistente, teimosa, bela, a flor da liberdade, da democracia, dos direitos humanos, da igualdade (que não do igualitarismo, semente da opressão), da segurança; numa palavra, da dignidade humana.

Essa luta, que voltará aqui, noutros textos, travaram-na Gigantes (sobre os ombros dos quais tímida e timoratamente ambiciono alcandorar-me, confesso sem pudor): guerreiros contra a barbárie; políticos (sim, porque não?) pela justiça; filósofos filosofando sobre a verdade; pensadores com uma visão; poetas com um sonho; gente vulgar com coragem.

Mas a moral social dominante que construímos no Ocidente – e não me venham dizer que não há civilizações mais evoluídas do que outras, pelo menos num tempo histórico determinado – sobre os ombros desses Gigantes, é uma frágil construção que facilmente desabará se a não protegermos, se não lutarmos por ela, se não combatermos os seus inimigos. Se não formos, desculpem-me a presunção, também Gigantes… bom, pelo menos, se não estivermos de pé.

Quem são esses inimigos? O radicalismo. O igualitarismo doutrinário. A autocracia. Os déspotas iluminados. O politicamente correcto. O relativismo moral. Os sábios que tudo sabem. Os ignorantes que tudo sabem (note-se que os sábios que só sabem algumas coisas, mas que as sabem muito bem, embora presumindo saber mais do que isso – à laia do sapateiro que vai além da chinela – são completamente diferentes dos ignorantes, que também tudo sabem e nem sequer são sábios). A síndroma da carneirada, com todo o respeito pelos carneiros, que não sabem sê-lo. A burocracia, a corrupção e a inação da gente boa.

Com tantos inimigos, que fazer? Recordo: defender a liberdade com todas as nossas forças, combater o radicalismo, seja de direita, porque é autoritário, seja de esquerda, porque é anti-natural, afirmar a moderação como um valor em si mesmo. E decisivo.

Os sete sins do liberalismo moderado

Sim à atitude existencial como definição do liberalismo (definido por Raymond Aron como uma hierarquia de valores, com a liberdade à cabeça, conquistada pela ação do ser humano)

Sim à intervenção do Estado para permitir aos indivíduos o exercício da liberdade (do mesmo Aron)

Sim à intervenção do Estado sempre que necessário, forte – até muito forte – quando é preciso (=necessário), duro no combate aos inimigos da civilização, como a corrupção, eficiente a defender a soberania nacional, o respeito pelos valores da Nação portuguesa, a nossa língua, uma justiça célere e justa (sem pleonasmo), os velhos e os doentes – a saúde! -, um mercado equilibrado, concorrencial e aberto

Sim ao Patriotismo, não ao Nacionalismo (peço desculpa pelo primarismo dos conceitos, mas ainda não descobri ilustração mais clara – e rude), ou se quiserem, sim ao amor à Pátria, a um Portugal cristão (de matriz cristã, única cedência ao politicamente correto que estou pronto a fazer), europeu, orgulhoso de si e da sua história

Sim à globalização, realidade inelutável, e à cooperação com sociedades vizinhas ou amigas, que partilham a nossa visão do mundo e a moral social que é a nossa, com a União Europeia como referência e o desígnio transatlântico como aspiração (um retorno?)

Sim à liberdade individual no plano dos costumes, no respeito pela construção de princípios e valores em que assenta a civilização Ocidental

Sim ao recurso a todos os meios, no limite dos valores assumidos, da dignidade humana e dos direitos fundamentais, na luta contra todos os radicalismos

Os sete nãos do liberalismo moderado

Não ao radicalismo sob todas as suas formas

Não ao politicamente correcto sob todas as suas formas

Não ao Estado-leviatã (Hobbes, retomado por Tocqueville, ia), ao Estado que pesa na economia, que nacionaliza sem ser em última instância

Não ao egoísmo individual, à apatia política que despreza a intervenção pública em favor da atenção exclusiva ao interesse próprio (um pouco à laia de Tocqueville)

Não à catalaxia (Hayek: os mercados deixados a si mesmo, a ordem espontânea e o laissez-faire laissez passer em todo o seu esplendor) e ao Estado mínimo ou minarquia

Não ao libertarianismo moral, ao relativismo moral, ao vale tudo moral e ético

Não ao fim da esperança no progresso e na liberdade

Um aforismo liberal-moderado

Sou liberal porque sou livre, moderado porque sou racional, liberal-moderado porque aspiro a ser feliz.


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