AGREEKMENT: ENTRE O APOCALIPSE E A SALVAÇÃO
Caros amigos e amigas
Partilho convosco, não a crónica, que já o fiz, mas as reacções à crónica: muitos comentários, muito poucos de acordo, muitas críticas, muita desilusão e desencantamento com a Europa. Que sucedeu? Acreditem, que há quase vinte anos escrevo e recebo críticas pelo que escrevo, que nunca como agora sinto tão crispada a relação (pelo menos) dos meus conterrâneos com o projecto europeu. Que sucedeu? Bem, desde logo sucede um grande desconhecimento sobre a natureza da União Europeia e a sua visão; sucedem-se em sucessivas salvas as teorias da conspiração, tendo a Alemanha e os negócios como alvo, como se a Alemanha tivesse de ser a inevitável fonte de onde surgirá a terceira destruição da Europa e como se os negócios fossem alguma coisa má (não há sociedades sem negócios); sucede uma emoção (quase) sem freio, que pinta a vida, e o Mundo, e a Europa, a preto e branco, maniqueisticamente, e por isso critica a Europa, a vida, o Mundo, consoante favorece o preto e o branco, ignorando as cores todas do arco-íris, as cores da vida. A Europa é hoje um factor de divisão e confronto, quando ela tem sido, desde a criação das primordiais Comunidades Europeias, uma garantia de paz e prosperidade. Prosperidade sim, pois convém não esquecer que a União é a região do Mundo que mais riqueza cria anualmente (25%) e que até a zona euro é a terceira região mais rica (União/EUA/Zona euro).
Foram inábeis e infelizes os negociadores das instituições no acordo estabelecido com a Grécia? Claro que sim. Mas para além do facto de ser inevitável um acordo duro para o orgulho e até a soberania grega (para tentar que o acordo passe nos diferentes parlamentos e opiniões públicas das restantes 18 democracias), isso não torna o projecto menos válido, menos importante, menos fundador da nossa vida futura. Não faz decerto sentido deitar fora o bebé com a água suja do banho, para pedir emprestado um conhecido dito francês.
Quando cada vez mais pessoas racionais e de bom senso cedem às palavras inflamadas dos tribunos da demagogia, é grande o risco que a laboriosa construção, a obra que nasce e cresce e nos ilumina, soçobre com fragor e para sempre. É grande o risco que à União Europeia, complexa e difícil empreendimento político, económico e social a que se dedicaram os homens e mulheres deste distante cabo do Mundo chamado Europa, seja dado o destino fatal dos projectos incompreendidos e rejeitados em nome de ideologias extremas, fantasmas inventados, conspirações apócrifas:
E é por isso também essencial que quantos acreditam, os que vêm na União o caminho para o futuro – uma União renovada, reformada, democrática, participada e solidária, como ela pode e deve ser – se unam e falem, sem medo, na praça pública, no espaço público europeu; que defendam este projecto contra os seus muitos inimigos, da extrema à extrema, ao lado dos povos europeus por quem a União já tanto fez.
Podem as minhas crónicas, sobretudo quando falam da Europa, ser objecto de todos os anátemas; exprimir-me-ei porventura a espaços com excesso de retórica e colorido; mas não deixarei que estiole a minha convicção: unidos neste nosso pequeno continente, das distantes florestas escandinavas ao solo latino do Sul e do sol, seremos decerto mais fortes, do que cada um por si – num salve-se quem puder em que ninguém se salvará, pois a Europa do cada um por si lentamente entrará na noite da sua própria decadência.
Bem hajam