Só três portugueses vão ocupar um dos 88 lugares de vice-presidente das comissões do Parlamento Europeu/PE (falta ainda conhecer três, contudo). Nenhum será presidente de comissão. Recorde-se que é nas comissões especializadas que se faz a maior parte do trabalho legislativo (e de iniciativa) da instituição.
Esta é uma das mais fracas participações portuguesas nos cargos políticos relevantes do PE, com óbvios reflexos na influência dos nossos eurodeputados nas políticas europeias:
Em todas as legislaturas até 2009, Portugal teve sempre vice-presidências da instituição. Agora não tem nenhuma (já tinha acontecido o mesmo na legislatura anterior, de 2009 a 2014). Teve questores em duas legislaturas. Presidência de comissões parlamentares em todas – é a primeira vez que não tem nenhuma. E teve até presidências de grupos políticos, ainda que em tempos já recuados (1989-94). Três vice-presidências de comissão entre 110 nomeados (para presidentes e vice-presidentes) significa que o nosso país está até abaixo da quota informal que lhe cabe, em geral, na distribuição de votos ou lugares nas instituições europeias.
É fácil perceber porque isto acontece: a excessiva rotação dos eleitos, sem salvaguarda daqueles que, pelas suas funções, desempenho e prestígio, facilmente seriam objecto de escolha pelos seus pares. Longe vai o tempo de Lucas Pires, António Vitorino, João Cravinho ou Joaquim Miranda. Esta é uma questão que os partidos políticos em Portugal terão de encarar com seriedade no futuro, sob pena de menorizar cada vez mais a influência do nosso país nas instituições de Bruxelas (e depois queixamo-nos). Veja-se aliás o que sucedeu com alguns dos eurodeputados portugueses que na última legislatura desempenharam no PE papel de relevo e que, pura e simplesmente, “desapareceram em combate”… E na Comissão Europeia, passada a era Barroso, convirá não descurar a qualidade da nossa representação, ao mais alto nível, quer da personalidade a escolher, quer até das funções desempenhadas (a “pasta” que lhe cabe). Veja-se o que a este propósito escrevi recentemente no Observador.
Refira-se ainda que os eurocépticos foram “barrados” na corrida a estes mesmos lugares. A escolha dos presidentes (22) e vice-presidentes (88) é feita por votação entre os deputados através do método de Hondt e os grupos políticos maioritários impediram que os grupos eurocépticos tivessem qualquer lugar de presidência, guardando para si a “parte de leão” dos disponíveis (14 dos 22, mais precisamente).
Eis a lista dos eleitos (presidentes e vice-presidentes, estes apenas quando portugueses):
Assuntos Externos: Elmar Brook (PPE/alemão)
Direitos Humanos: Elena Valenciano (S&D/espanhola)
Segurança e Defesa: Anna Fotyga (Conservadores e reformistas/polaca)
Desenvolvimento: Linda McAvan (S&D/inglesa)
Comércio Internacional: Bernd Lange (S&D/alemão)
Orçamento: Jean Arthuis (Liberais/francês)
Controlo orçamental: Inge GRÄßLE (PPE/alemã)
Assuntos Económicos e Monetários: Roberto GUALTIERI (S&D/italino), falta eleger dois vice-Presidentes
Emprego e Assuntos Sociais: Thomas HÄNDEL (Esquerda unitária, comunistas/alemão)
Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar: Giovanni LA VIA (PPE/italiano)
Indústria, Investigação e Energia: Jerzy BUZEK, antigo presidente do PE (PPE/polaco)
Mercado Interno e Protecção do Consumidor: Vicky FORD (Conservadores e reformistas/inglês)
Transporte e Turismo: Michael CRAMER (Verdes/alemão)
Desenvolvimento Regional: Iskra MIHAYLOVA (Liberais/búlgara)
Agricultura e Desenvolvimento Rural: Czeslaw SIEKIERSKI (PPE/polaco)
Pescas: Alain CADEC (PPE/francês)
Cultura e Educação: Silvia COSTA (S&D/italiana)
Assuntos Jurídicos: Pavel SVOBODA (PPE/checo)
Liberdades Civis, Justiça e Assuntos Internos: Claude MORAES (S&D/inglês)
Assuntos Constitucionais: Danuta HÜBNER (PPE/polaca). Vice-presidentes Pedro Silva Pereira e Paulo Rangel
Direitos das Mulheres e Igualdade de Género: Iratxe GARCÍA PÉREZ (S&D/espanhola). Vice-presidente Inês Zuber, falta eleger um vice-Presidente
Petições: Cecilia WIKSTRÖM (Liberais/sueca).
Em resumo, Silva Pereira, Paulo Rangel e Inês Zuber são vice-presidentes de comissões, 3 entre 88 (mas ainda falta escolher três).