EURATÓRIA

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A próxima Comissária…

in OBSERVADOR

No discurso perante o Parlamento Europeu, que o elegeu Presidente da Comissão, Juncker não fez qualquer referência a Durão Barroso

Jean-Claude Juncker foi eleito Presidente da Comissão Europeia pelo Parlamento Europeu com 422 votos, mais do que Barroso obtivera em 2004 (413 votos) e 2009 (382 votos). O mínimo necessário era de 376 votos. Houve 250 votos contra.

No seu discurso antes da eleição Juncker fez várias considerações, de que destacamos:

– A importância da Europa social, pois não é acabando com a segurança social que se alcança maior competitividade.

– A necessidade de fazer reviver o poder da Comissão Europeia, erodido nos últimos anos.

– A mesma coisa no que respeita ao chamado “método comunitário”, um dos grandes princípios orientadores (e fundadores) da União Europeia, que se baseia na iniciativa da Comissão, sobretudo legislativa, e que há muito está em perda pelo crescente poder (intergovernamental) do Conselho Europeu.

– Na sua agenda – com 300 mil milhões a eles dedicados – estão projectos nas áreas da energia e do mundo digital.

– Juncker prometeu ainda acabar de vez com a legiferação excessiva da União.

– O novo Presidente da Comissão fez uma defesa vigorosa do euro, referindo que o pacto de estabilidade e crescimento não será posto em causa, mas que a eurozona terá de ser cada vez mais autónoma, eventualmente com um orçamento e instituições próprias (recorde-se que Juncker foi Presidente do Eurogrupo durante vários anos).

– Interessante também foi o facto do novo Presidente da Comissão ter dito que não haverá novos Estados-membros durante o seu mandato, que é de cinco anos, recorde-se.

– Mais solidariedade norte-sul é outra das bandeiras de Juncker, que também abordou a  forma de enfrentar os problemas decorrentes da imigração ilegal na Europa.

Jean-Claude Juncker reconheceu o papel deste Parlamento Europeu, o primeiro a verdadeiramente eleger o Presidente da Comissão Europeia.

E prestou tributo a um seu ilustre antecessor, e sua inspiração:

Jacques Delors.

Eurodeputados portugueses sub-representados em cargos de relevo no Parlamento Europeu

Só três portugueses vão ocupar um dos 88 lugares de vice-presidente das comissões do Parlamento Europeu/PE (falta ainda conhecer três, contudo). Nenhum será presidente de comissão. Recorde-se que é nas comissões especializadas que se faz a maior parte do trabalho legislativo (e de iniciativa) da instituição.

 Esta é uma das mais fracas participações portuguesas nos cargos políticos relevantes do PE, com óbvios reflexos na influência dos nossos eurodeputados nas políticas europeias:

 Em todas as legislaturas até 2009, Portugal teve sempre vice-presidências da instituição. Agora não tem nenhuma (já tinha acontecido o mesmo na legislatura anterior, de 2009 a 2014). Teve questores em duas legislaturas. Presidência de comissões parlamentares em todas – é a primeira vez que não tem nenhuma. E teve até presidências de grupos políticos, ainda que em tempos já recuados (1989-94). Três vice-presidências de comissão entre 110 nomeados (para presidentes e vice-presidentes) significa que o nosso país está até abaixo da quota informal que lhe cabe, em geral, na distribuição de votos ou lugares nas instituições europeias.

 É fácil perceber porque isto acontece: a excessiva rotação dos eleitos, sem salvaguarda daqueles que, pelas suas funções, desempenho e prestígio, facilmente seriam objecto de escolha pelos seus pares. Longe vai o tempo de Lucas Pires, António Vitorino, João Cravinho ou Joaquim Miranda. Esta é uma questão que os partidos políticos em Portugal terão de encarar com seriedade no futuro, sob pena de menorizar cada vez mais a influência do nosso país nas instituições de Bruxelas (e depois queixamo-nos). Veja-se aliás o que sucedeu com alguns dos eurodeputados portugueses que na última legislatura desempenharam no PE papel de relevo e que, pura e simplesmente, “desapareceram em combate”… E na Comissão Europeia, passada a era Barroso, convirá não descurar a qualidade da nossa representação, ao mais alto nível, quer da personalidade a escolher, quer até das funções desempenhadas (a “pasta” que lhe cabe). Veja-se o que a este propósito escrevi recentemente no Observador. 

 Refira-se ainda que os eurocépticos foram “barrados” na corrida a estes mesmos lugares. A escolha dos presidentes (22) e vice-presidentes (88) é feita por votação entre os deputados através do método de Hondt e os grupos políticos maioritários impediram que os grupos eurocépticos tivessem qualquer lugar de presidência, guardando para si a “parte de leão” dos disponíveis (14 dos 22, mais precisamente).

 Eis a lista dos eleitos (presidentes e vice-presidentes, estes apenas quando portugueses):

Assuntos Externos: Elmar Brook (PPE/alemão)

Direitos Humanos: Elena Valenciano (S&D/espanhola)

Segurança e Defesa: Anna Fotyga (Conservadores e reformistas/polaca)

Desenvolvimento: Linda McAvan (S&D/inglesa)

Comércio Internacional: Bernd Lange (S&D/alemão)

Orçamento: Jean Arthuis (Liberais/francês)

Controlo orçamental: Inge GRÄßLE (PPE/alemã)

Assuntos Económicos e Monetários: Roberto GUALTIERI (S&D/italino),  falta eleger dois vice-Presidentes

Emprego e Assuntos Sociais: Thomas HÄNDEL (Esquerda unitária, comunistas/alemão)

Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar: Giovanni LA VIA (PPE/italiano)

Indústria, Investigação e Energia: Jerzy BUZEK, antigo presidente do PE (PPE/polaco)

Mercado Interno e Protecção do Consumidor: Vicky FORD (Conservadores e reformistas/inglês)

Transporte e Turismo: Michael CRAMER (Verdes/alemão)

Desenvolvimento Regional: Iskra MIHAYLOVA (Liberais/búlgara)

Agricultura e Desenvolvimento Rural: Czeslaw SIEKIERSKI (PPE/polaco)

Pescas: Alain CADEC (PPE/francês)

Cultura e Educação: Silvia COSTA (S&D/italiana)

Assuntos Jurídicos: Pavel SVOBODA (PPE/checo)

Liberdades Civis, Justiça e Assuntos Internos: Claude MORAES (S&D/inglês)

Assuntos Constitucionais: Danuta HÜBNER (PPE/polaca). Vice-presidentes Pedro Silva Pereira e Paulo Rangel

Direitos das Mulheres e Igualdade de Género: Iratxe GARCÍA PÉREZ (S&D/espanhola). Vice-presidente Inês Zuber, falta eleger um vice-Presidente

Petições: Cecilia WIKSTRÖM (Liberais/sueca).

Em resumo, Silva Pereira, Paulo Rangel e Inês Zuber são vice-presidentes de comissões, 3 entre 88 (mas ainda falta escolher três).

O “novo” Parlamento Europeu

Terminou a sessão constitutiva do novo Parlamento Europeu (PE), saído das eleições de Maio. Dados principais consolidados e alguns comentários:

 A Assembleia tem agora – definitivamente, nos termos do Tratado de Lisboa – 751 deputados europeus (MEPs). A repartição por grupos políticos é como segue:

 A primeira sessão plenária marcou o tom: o PE será utilizado por todos os deputados do grupo anti-europeu (Europa da Liberdade), e pelos eurocépticos de extrema-direita não inscritos para combater… a própria existência do Parlamento Europeu (e da EU…). Parte dos membros Conservadores juntar-se-lhes-ão ocasionalmente em matérias relacionadas com as soberanias nacionais ou nas quais o poder da União pareça reforçar-se (nem que seja na aparência). São cerca de um quinto, ou 20%, do hemiciclo. Os dois maiores partidos, em aliança constante – ou frequente – com os liberais, tentarão naturalmente constituir uma forte maioria contra os desejos e as iniciativas dos eurocépticos. À margem correrão Verdes e a Esquerda Unitária – os comunistas – com agenda própria. De alguma forma, ouso dizer, este é um Parlamento clarificado; sabe-se agora exactamente onde se situa cada posição e o que defendem uns e outros.

 Durante a primeira sessão plenária, foi salientada a absoluta necessidade de pôr em marcha as reformas exigidas pelos cidadãos. Matteo Renzi, o popular primeiro-ministro italiano, no início do semestre da Presidência italiana, falou de uma Europa cansada, a precisar de renovação: uma nova alma para a integração europeia precisa-se.

 Finalmente, e para já, foram eleitos o Presidente – Martin Schulz -, 14 vice-Presidentes (nenhum é português), 5 Questores e os membros das Comissões Parlamentares. Nestas os portugueses repartem-se, como titulares, por 18 Comissões e sub-Comissões, não havendo nenhum apenas em quatro casos: Comércio Internacional (de que curiosamente era Presidente o antigo deputado europeu eleito pelo PS Vital Moreira), Controlo Orçamental, Cultura e Educação e Petições. Dia 7 se saberá se algum deputado nacional vai exercer funções de presidência ou vice-presidência em qualquer uma das referidas Comissões.

Para saber mais, visite o sítio da instituição. 

 A terminar, comentário breve ao gesto de alguns deputados euro-cépticos, que viraram as costas quando soou o hino da Europa no hemiciclo: são malcriados.

Trabalhar para a União Europeia: saiba como

Em tempos difíceis, o mercado de trabalho definha e o flagelo do desemprego afecta todos, dos mais velhos – excluídos e sem esperança de retorno – aos mais novos, cada vez mais angustiados na busca do primeiro emprego, sempre adiado, sempre substituído por estágios mais ou menos mal (não) pagos, ad infinitum.

A solução é alargar horizontes, buscar alhures o que nos não dão cá dentro. Não é fácil, não exclui a angústia da partida e do abandono da nossa terra e dos nossos, mas é muitas vezes a alternativa certa.

Ora existe um mercado de trabalho ainda relativamente dinâmico, promissor para os mais jovens como para as pessoas de maior idade – onde a idade não é à partida um factor de exclusão -, acessível geográfica e, ouso dizê-lo, “mentalmente”. Refiro-me à União Europeia e às suas instituições.

Assim, para quem não o saiba, aqui vai a ligação ao sítio que lhe dá todas as informações sobre oportunidades, tendências e acesso aos concursos para acesso a profissões dentro das muitas instituições e órgãos europeus. Trata-se da EPSO (acrónimo de European Personal Selection Office).

E para quem acha sempre que “isso é só para os outros”, “está tudo decidido à partida”, “nunca ganho nada”, “são 50 mil”, entre outros habituais chavões à portuguesa, digo-vos apenas que aconteceu a milhares de compatriotas nossos, todos eles participaram e foram bem sucedidos em concursos com muitos concorrentes e o anonimato é total. Porque não há-de acontecer convosco?

Boa sorte!

 

Martin Schulz é o novo (velho) Presidente do Parlamento Europeu

A eleição – pré-anunciada – do socialista Schulz, representa uma novidade: dois mandatos como Presidente do Parlamento Europeu, algo inédito no Parlamento eleito e que apenas aconteceu uma vez desde que há Comunidades Europeias, quando o político, também alemão mas CDU, Hans Furler, presidiu nos anos 50 à Assembleia da CECA e depois à Assembleia Parlamentar Europeias, percursoras do Parlamento Europeu. Mais ninguém desde então teve um segundo mandato à cabeça da instituição.

A reeleição do anterior Presidente do PE, foi uma exigência do Partido Europeu dos Socialistas e Democratas para o apoio que deram – como chefes de Estado e de governo, no âmbito do Conselho Europeu -, à indigitação de Jean-Claude Juncker para Presidente da Comissão. Algo que terá passado despercebido a Cameron, demasiado entretido a dar ouvidos à polifonia interna (claro que estou a ser irónico – é perigoso fazer ironia neste país sem indicar que o estamos a fazer).

Dois anos e meio mais de Schulz, portanto, significam o quê? O discurso inicial do Presidente tocou nalguns pontos chave, como a relação da Europa com os cidadãos, mas não deu mais indicações, o que é natural se considerarmos que a função não é muito mais do que de representação e direcção de trabalhos, para além de um óbvio magistério de influência.

Na eleição, Schulz foi aprovado pelos socialistas e pelo próprio PPE, pelas razões acima enunciadas, derrotando assim o espanhol Pablo Iglesias, do Podemos (concorrendo pelo grupo da Esquerda Europeia Unida, onde estão Bloco e PCP), o britânico conservador Sajjad Karim e a deputada austríaca Ulrike Lunacek, dos Verdes.