Recado aos 71: não se preocupem, a solução vem a caminho (trata-se da união bancária)
E se de repente aquilo que parecia impossível há alguns anos estivesse à beira de acontecer? E se, ainda por cima e sem grande alarde, isso fosse em simultâneo uma pista para a solução do problema dos países endividados como Portugal, alternativa real ao não pagamento unilateral da dívida que nos últimos dias foi tema de conversa a propósito de um já célebre manifesto (o dos 71)?
Esta semana, graças nomeadamente ao excelente trabalho da portuguesa Elisa Ferreira, o Parlamento Europeu levou à cedência de alemães e franceses (sobretudo daqueles) e chegou a um acordo com os Estados-membros para que possa ser dado o próximo passo no processo de criação de uma verdadeira união bancária na União:
O mecanismo de liquidação, ou resolução, de bancos em dificuldades (leia-se, falidos), constituído por um comité de resolução e por um fundo de garantia. Este novo mecanismo complementa o instrumento de supervisão bancária, de que será principal responsável já no final do ano o Banco Central Europeu (BCE), tornando cada vez mais verosímil e real a instituição de uma verdadeira união bancária na eurozona.
O acordo representa uma verdadeira oportunidade para quebrar a ligação entre o sistema bancário e os soberanos (os governos), responsável em grande parte pela crise recente e pelo recrudescimento do endividamento público. Ainda há algumas semanas – leiam por favor os comentários então produzidos por tantos “especialistas” – se dizia que a união bancária nunca poderia chegar tão longe, por força da oposição alemã. Serão abrangidos todos os bancos da eurozona, bem como aqueles que, não lhe pertencendo, queiram associar-se a este novo mecanismo.
Pedra de toque fundamental do novo mecanismo é o fundo de resolução: os bancos contribuirão para ele durante oito anos – em vez dos 10 exigidos inicialmente pela Alemanha– e, mais importante ainda, a sua mutualização ocorrerá (em 40%) logo no primeiro ano – contra os 10% inicialmente expectáveis -, 20% no segundo, sendo o resto repartido de forma equitativa pelos restantes seis anos do prazo referido. Para reforçar as garantias dadas pelo fundo foi decidido estabelecer uma linha de crédito para os primeiros anos, enquanto for insuficiente o montante mutualizado, assegurando o funcionamento do mecanismo. No final, o fundo deverá estar dotado de 55 mil milhões de euros.
A Comissão Europeia será parte essencial no processo, cabendo-lhe desenhar o modelo das resoluções, tendo o BCE a responsabilidade de desencadear a liquidação de um banco quando considere existir um risco real de falência. Os termos em que o acordo foi estabelecido, segundo algumas fontes, devem permitir a tomada de uma decisão e o estabelecimento de um processo de resolução em 48 horas. Caso o BCE não actue, o comité de resolução pode fazê-lo. A intervenção dos Estados-membros só ocorrerá a pedido expresso da Comissão ou dos responsáveis pelo mecanismo, o que deve impedir a “politização” do instrumento.
Elisa Ferreira resumiu assim os três principais princípios cujo respeito o Parlamento assegurou: a instituição de um processo de decisão rápido e eficaz; um tratamento equitativo dos bancos, independentemente da sua localização; a protecção do dinheiro dos contribuintes.
Por exigência da Alemanha, o fundo agora adoptado terá ainda de ser confirmado por um Tratado intergovernamental entre os Estados-membros. Para os alemães, trata-se de uma forma de evitar que o país seja levado a arcar com o essencial dos custos envolvidos.
Passo a passo, a União Europeia prossegue a construção de uma verdadeira solidariedade europeia, contrariando as vozes – as muitas vozes – que periodicamente anunciam o fim do sonho europeu. Seria possível ir (ter ido) mais depressa, mais longe, mais eficazmente? Muito sinceramente, não me parece, face à complexidade das questões envolvidas. Mas claro que há sempre quem saiba muito mais.
Em que é que isto ajuda Portugal e a sustentabilidade da sua dívida externa? É matéria para um texto a publicar em breve… mas acreditem que ajuda…
ps. desculpem uma nota pessoal, mas não podia estar mais de acordo com o Vítor Bento, eu que em geral estou de acordo com ele…
os anos que não faço no meu dia de anos
Por um lado, faço hoje anos.
Por outro, não faço.
Segundo algumas fontes, celebro hoje 48 anos.
De acordo com outras, tenho 57.
Acordei hoje e senti-me exactamente como me sentia ontem.
Muitos dos meus amigos, felicitaram-me hoje.
Muitos dos meus amigos, felicitaram-me há 25 dias.
Alguns dos meus amigos felicitaram-me há 25 dias. E hoje.
A acreditar no zodíaco, sou peixe.
A acreditar no mesmo zodíaco, sou aquário.
Fonte 2.0 bem informada afirma-me nascido em Fevereiro.
Fonte 2.0 também bem informada afirma-me nascido em Março.
Vou ver:
facebook.com. enter. perfil.
Descubro sobre mim próprio inusitadas coisas:
Nasci hoje, há 48 anos.
Era bom.
Sou do género masculino.
Certo.
A minha cidade natal é Lisboa.
Mas nasci em Macau.
Vivo em Lisboa.
É verdade.
Trabalhei no jornal Público.
Perdão?!
Fiz o liceu no Pedro Nunes.
Bem, sei do liceu de Lourenço Marques, do Colégio Militar, do Passos Manuel, do Liceu de Nova Lisboa, do Paulo Dias de Novaes (em Luanda), mas não me lembro do Pedro Nunes… nem cabia na lista, pois não?
Estudei na Universidade Católica.
Sim, em parte dos meus estudos universitários (pós-graduação, mestrado), mas a licenciatura fi-la na Clássica.
Que mais?
O melhor é fazer copy paste:
Birth Date March 17
Birth Year 1966
Leio e releio.
Birth date March 17
Birth Year 1966
Era tão bom, não seria?
Conclusão e consequências
A não ser num estado de sonambulismo descontrolado que não creio suceder-me, nunca escrevi no meu perfil de FB as afirmações que hoje aí descobri.
Tudo começou ontem à noite, com as primeiras mensagens de felicitações. Hoje começaram a chover simpáticas palavras de parabéns. São assinadas pelos chamados amigos do FB, mas também por pessoas com quem estou amiúde. Há até casos curiosos, pelo menos duas pessoas que me felicitaram de novo (já o tinham feito há algumas semanas). Com alguns dos felicitantes estou menos vezes do que gostaria, as missivas recebidas recordam-me o quanto os estimo. Todos, com sinceridade, me felicitam pelo meu aniversário.
Obrigado a todos.
Há só um insignificante senão: é que não faço anos hoje. Muito menos 48! Isso queria eu. Fiz anos há 25 dias: mais 9. Seria então de repetir, adaptado, o poema de João de Deus:
Com que então caiu na asneira/de fazer na quarta-feira (dia 19 de Fevereiro)/57 anos/ que tolo!/Ainda bem que os desfizeste/numa qualquer segunda-feira/pois tê-los feito não parece/de quem tem muito miolo.
Asseguro e assino por baixo: nunca escrevi os dados que surgem no meu perfil de FB. Vou contemplá-los durante uns dias e a seguir corrijo-os.
Entretanto, quem quer que seja que teve acesso ao meu código e deste modo me rejuvenesceu e pôs a trabalhar, a estudar (e a nascer) onde eu não trabalhei, nem estudei (nem nasci), bem-haja. É mais simpático ter 48 anos do que 57 (e ser jovem e bonito e com saúde), é um privilégio serem-me atribuídos estudos no Pedro Nunes ou na Católica, muito gostaria de ter nascido na cidade da minha v ida (e não em Macau, aonde nunca mais voltei).
Além de que a frase que esse desconhecido benfeitor diz ser a minha favorita, não sendo o caso – muitas outras mereceriam a definição -, é apesar de tudo oportuna:
Que é pois a Europa? Se ninguém me pergunta, sei exactamente o que é; se quero explicá-la a quem mo pergunta… não sei. (Santo Agostinho?)
Isto é: que é pois o FB? Se me perguntam, consigo explicar exactamente o que é; se ninguém me pergunta é que não tenho ideia nenhuma.
Disponham à vontade da minha identidade.