(2) O fim do euro ou o princípio de algo novo?
A crise do euro, que afectou sobretudo as economias periféricas, todas do sul europeu com excepção da Irlanda, foi também tomada por muitos como o princípio do fim do euro.
As razões para essa antecipação eram compreensíveis, sendo-o menos, contudo, o alarmismo que foi acompanhando cada acto da tragédia que se ia desenrolando ante os nossos olhos – as dezenas de Cimeiras “da última oportunidade”, as ameaças de ruptura iminente em países como a Grécia ou Portugal, à beira da bancarrota, o aumento constante do desemprego, a enxurrada imigratória no nosso país, o nível das taxas de juro associadas às dívidas soberanas, a profundidade das recessões.
Por razões de outra ordem, no dia 17 de Janeiro de 2013 fiz uma pesquisa no google sobre a expressão “end of the euro”, que me devolveu os seguintes números: cerca de 119 000 000 de resultados, em 0,32 segundos. No dia 9 de Janeiro deste ano, a mesma expressão já contabilizava 646 000 000 resultados, em apenas 0,28 segundos.
Todos os que acompanham a comunicação social e os comentários nela publicados, sabem que essa ideia – a de que o euro está por um fio – há muito se instalou e faz doutrina. Por outro lado, prestigiados economistas (até prémios Nobel), cientistas políticos e académicos insistem na impossibilidade de uma moeda única num contexto de união monetária entre países tão díspares, em termos de desenvolvimento, ciclo económico e características sociais e políticas, como os que constituem a União Europeia.
Resumindo: crises económicas como a que abala a Europa e o Mundo desde 2008 obrigariam a respostas distintas por parte dos diferentes países europeus ou, pelo menos, dos blocos mais ou menos homogéneos que a constituem, desde logo na intersecção entre Norte rico e Sul pobre, Norte credor e Sul devedor, Norte austero e Sul esbanjador, para simplificar, caricaturando; não sendo isso possível, por força da União que nos obriga (quanto às obrigações em concreto falarei noutro dia), os choques assimétricos consequentes levariam necessariamente, como levaram, a crises impossíveis de gerir sem o recurso, nos países mais afectados, aos mecanismos tradicionais da emissão de moeda, investimentos públicos, desvalorização cambial.
Passaram cinco anos. Neste início de 2014, a questão é pois de saber se o euro está
a beira do fim.
A MINHA PREVISÃO
Sou um optimista. Isso significa que acredito que cada cenário negro tem sempre um reverso positivo; e que todas as previsões definitivas são previsões até se tornarem definitivas.
Todos sabíamos de há muito que a união monetária não fora construída sobre alicerces fortes. Porque é que sabíamos? E porque é que foi assim?
Sabíamos porque as condições para a constituição de uma zona monetária exequível não existiam (atenção, não me refiro a uma zona óptima). Aliás, a anterior tentativa de criação de uma união monetária – em 1970 – já indicava claramente quais seriam essas condições e nada disso foi respeitado em Maastricht, no Tratado entrado em vigor em 1993 em que a UEM foi estabelecida.
Foi assim por razões políticas mundiais (a queda do Muro), europeias (unificação alemã, conveniência francesa, fraqueza dos restantes) e por razões económicas (crise do sistema monetário europeu). Mas isso interessa pouco. O que conta, na minha opinião, é que desde o início da crise os europeus têm mantido uma notável perseverança na defesa da sua moeda. O que conta, também, é que o euro é hoje a moeda de 18 países, mais seis do que em finais de 2007, antes do despoletar da crise. O que conta é que, desde 2008, já foram tomadas mais medidas para reforçar a coesão da zona euro do que desde a sua criação; são medidas, aliás e sobretudo, que ainda há alguns anos seriam consideradas impensáveis, inimagináveis e outros “áveis” (como “miseráveis”) que os pessimistas (aqueles que acreditam que as previsões são premonições e, pari passum, inevitabilidades auto-realizadas) gostam de utilizar.
Falta fazer muita coisa, como por exemplo uma união bancária efectiva e sustentável e as bases de uma real solidariedade (financeira) na Europa; mas, como se sabe, o caminho faz-se caminhando – e está-se a caminhar.
O britânico Times, que não é propriamente suspeito de eurofilia, escrevia a 20 de Dezembro passado:
“The eurosceptics who predicted a Greek exit from the Eurozone and the unravelling of currency union were confounded. They misjudged the will of member states and electorates to remain in the euro. Even a majority of Greek voters, amid bitter recession, remain supportive [of the euro]. The doomsayers also misjudged the determination of policymakers to stand by the euro. The ECB’s willingness to buy the bonds of highly indebted Eurozone economies stemmed financial market contagion. Growth remains weak but the indebted Eurozone economies are emerging stronger.” Citado em euro/topics, o texto tem como epígrafe Europe stands by the euro; permitam-me que resuma traduzindo-a livremente: a Europa cerra fileiras em torno do euro.
A minha previsão: não será em 2014 que a Europa verá o fim do euro. Nem nesta década. Nem…