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EM DEFESA DO EURO

Em tempo…

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Entre futuro e passado (2)

Vivemos num tempo entre tempos. A olhar para um passado que acabou, mas saudosos dele, enquanto esperamos o tempo que não chega, mesmo que nos chegue todos os dias.

Vem isto a propósito da União Europeia. Enquanto se anunciam diariamente debates (como o de hoje na RTP1) sobre a saída do euro, poucos se detêm a olhar para a floresta que é o Mundo e de que a União ocupa mais de um quarto se a referência for o PIB, mas apenas 7%, se for a percentagem de população. 7%! … e a minguar, dada a tendência demográfica.

Numa reflexão racional, ordeira e informada, a pertinência desta integração de países, economias e modos de vida não mereceria discussão. Afinal, ela permitiu aos povos europeus evitar a chaga da guerra que sempre os assolou, afinal, ela contribuiu para a convergência das economias (é um facto), afinal, ela levou um selo de liberdade a povos e países que, nalguns casos, nunca tinham tido uma experiência democrática duradoura.

Mas não vivemos tempos para reflexões racionais. A crise brutal que assola a Europa foi também causada por uma construção irreflectida e apressada de uma zona monetária entre economias demasiado díspares? Então, o melhor é acabar com a zona euro. Como se isso não fosse mais do que replicar o que tivemos – o passado que acabou mas para o qual continuamos a olhar -, com o seu rol de más soluções e dramáticas experiências.

Pôr o acento tónico na saída como se não houvesse soluções melhores é ignorar que há soluções melhores ou, pelo menos, significa remetê-las para um estatuto inferior. Antes de condenar a zona euro, talvez fosse melhor tentar perceber o que já foi feito e, sobretudo, o que falta fazer para a salvar. E de que forma essa salvação pode abrir as portas do futuro, o tal a que aspiramos e que parece nunca chegar apesar dele nos chegar todos os dias.

Explico: a Europa está na fase final da construção de uma união muito mais estreita entre os seus povos, em particular no que diz respeito ao euro, a qual resolverá muitos dos problemas que tornaram a moeda única um factor de instabilidade. Falta completar a união bancária, falta fazer da união orçamental um instrumento credível e visível (e neste caso um é condição do outro), falta utilizar diversamente os fundos estruturais tornando o CREN um verdadeiro fautor de crescimento.

Claro que a responsabilidade pela situação da zona euro é de todos e ninguém pode considerar-se excluído dela. Por uma vez (mas só por uma) concordo com o senhor Soros quando diz à Alemanha para decidir entre sair (ela mesma) do euro ou então aceitar os chamados “eurobonds” (emissão de dívida nacional com garantia europeia). Mas não é só isso: é também deixar de pôr obstáculos à conclusão da união bancária (e aos sistemas comuns de garantia de depósitos e de resolução de crises), é mudar o discurso da culpa e castigo para um discurso de solidariedade e responsabilidade. E com isso escolher entre o caminho do regresso ao passado ou o futuro que só espera que o reconheçamos. Sei que os alemães, mais do que os outros povos, têm consciência da alternativa que se coloca a todos os europeus.  

Ainda há tempo para impedir o continente europeu de voltar ao antigo ciclo da divisão. Esse que, no passado, deu os frutos que sabemos. Mas temos de deixar de pôr o acento tónico nas soluções que, inevitavelmente, nos conduziriam a esse passado.


1 Comentário

  1. Pedro Almeida Sande diz:

    O Euro como arma de divergência

    Quer queiram quer não os defensores acérrimos do Euro porque não vislumbram EU sem Euro, como se a Comunidade não fosse já uma realidade anterior à última fase da União Monetária e Económica, a assimetria nas condições de financiamento continua a consolidar-se na zona euro, com a Alemanha e a França a conseguirem financiar o seu endividamento a 10 anos a taxas inferiores a 2%.
    Obviamente que um argumento com esta “latitude”, poderia ser ele próprio um argumento para a necessidade ingente de novo passo em frente. O problema que se coloca, no entanto, é que desde que a unanimidade e a dimensão da União se colocaram, a tendência do processo decisório parece ir no sentido da concentração decisória polar e não da dispersão pelo consenso. Muito à medida da concentração da prosperidade e da não convergência, esse elemento central para a abdicação da soberania. E não nos esqueçamos que a União foi construída não só na ideia de paz mas também da prosperidade: e nem um, nem outro, destes elementos da “Visão” europeia sobrevive sem essa parceria.
    «A hierarquia descendente de níveis de yields das obrigações soberanas a 10 anos é a seguinte entre os países “periféricos” do euro: 10,28% para a Grécia; 5,92% para Eslovénia; 5,66% para Maravilhas De Portugal Portugalgal; 4,04% para Espanha; 3,76% para Itália; e 3,5% para a Irlanda.»

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