O Parlamento cipriota chumbou (sem votos contra) o plano de resgate apresentado pela União Europeia/FMI e as condições associadas (na verdade, chumbou estas) e procura agora uma solução para a situação de pré-bancarrota em que se encontra o país.
No meio da confusão opinativa que se tem avolumado sobre este assunto, duas conclusões simples:
– É possível rejeitar um resgate da União Europeia. A ideia que tem pairado (na verdade está instalada) em muitos países é a de que estes são obrigados a aceitar qualquer plano a qualquer custo. Não é verdade, há sempre a possibilidade soberana de dizer Não. Aceitando as consequências, claro…
– No caso cipriota, a saída pode estar, como aconteceu no passado recente, em mais um empréstimo russo. E a Rússia deve estar disposta a dá-lo, por algumas razões: primeiro, porque a passagem à prática do plano europeu significaria possivelmente que a plataforma financeira que Chipre representa há muitos anos para as grandes fortunas do país estaria condenada; e em segundo lugar, mais directamente, para proteger os ameaçados depósitos bancários dos seus cidadãos naquele país.
Certo, tudo certo. Mas a acrescentar àquelas duas conclusões, duas certezas: nem a União Europeia pode errar tanto como errou desta vez, já que a decisão relativa às condições do resgate, tomada aos repelões e sem critério, é até contrária a decisões suas anteriores (de proteger os depósitos dos europeus até aos 100 mil euros e a confiança dos mercados e dos cidadãos no sistema bancário); nem há “almoços grátis” ou solidariedade que resolva de um penada e sem custos excessos de muitas décadas.
De uma vez por todas, e já que é perigoso o consenso que grassa na opinião pública europeia sem que ninguém pareça interessado em contrariá-lo explicando o óbvio: a Alemanha, os países do Norte, defendem tanto os seus interesses como os do Sul. Ou talvez mais, concedo, mas neste caso cabe aos do Sul – os endividados, os em recessão profunda, os em dificuldades – defender melhor os seus interesses. A solidariedade europeia é uma vereda fina entre precipícios, delicada e precária, unico caminho para o futuro europeu, mas tem de existir coexistindo com a soma desses interesses.
Sempre assim foi, sempre assim será.